ESTUDOS
DAS
ESCRITURAS
SÉRIE II
O
Tempo
Está Próximo
ESTUDO V
MANEIRA DA VOLTA E
DO
APARECIMENTO DO
NOSSO SENHOR
A Harmonia da Maneira do Segundo Advento do nosso Senhor com outros
Aspectos do Plano Divino — Como e Quando a Igreja O Verá — Como e Quando
a Glória do Senhor se Revelará; e Toda a Carne Juntamente a Verá —
Afirmações Aparentemente Contraditórias Demonstradas serem Harmoniosas —
Vem “Como um Ladrão” — Não com Aparência Exterior — E no entanto “Com
Grande Brado” — Com “Vozes” — E “ao Som da Trombeta” — Se Manifestará
“em Chama de Fogo, e Tomará Vingança” — E entretanto, “Há de Vir Assim
Como” Foi — Demonstrada a Importância de Tempo Profético nesta Conexão —
A Harmonia de Indicações Presentes.
[103]
À VISTA do que
acabamos de considerar, o rápido fim dos Tempos dos Gentios, e a garantia de
que a consumação da esperança da Igreja deverá anteceder o seu fim, somente
estimula o apetite dos que agora estão esperando a consolação de Israel.
Tais terão anseio por qualquer informação que o nosso Pai pode ter
providenciado por meio dos profetas, no que toca à “ceifa”, o fim ou período
final desta idade — a separação do trigo do joio no meio dos membros
viventes da Igreja nominal, e o tempo da transformação dos vencedores, para
estarem com o seu Senhor e Cabeça e semelhantes a ele.
Entretanto, para
apreciar a racionalidade de ensino profético sobre estes assuntos
profundamente interessantes, é absolutamente necessário termos visão clara
tanto do
objetivo
da segunda vinda
do nosso Senhor, como da
maneira
em que ele se
revelará. Confiamos em que todos os leitores atuais ao ler o Volume I se têm
convencido de que o
objetivo
de sua vinda é
para reconciliar “quem quiser” do mundo, com Deus, por um processo de reger,
[104]
ensinar
e disciplinar, chamado julgamento e bênção. A maneira da vinda e do
aparecimento do Senhor, por conseguinte, é de importância suprema, antes de
proceder no nosso estudo do tempo da ceifa, etc. O estudante tem que manter
claramente na mente o objetivo, enquanto estuda a maneira da volta do nosso
Senhor; e ambos destes, quando vem a estudar o tempo. Isto é necessário como
contrapesar às opiniões errôneas já preocupando muitas mentes, baseadas em
idéias falsas tanto do objetivo como da maneira da vinda do nosso Senhor.
Compreenda e tenha
na mente tão firmemente como possível o ato, já demonstrado, que o Plano de
Deus é uma totalidade harmoniosa, a qual está sendo elaborada por meio de
Cristo; e que a obra do segundo advento fica relacionada com a obra do
primeiro como efeito da causa: isto é, que a grande obra da Restauração no
segundo advento segue a obra da Redenção realizada no primeiro advento como
uma seqüência lógica segundo o Plano Divino. Por conseguinte, a volta do
Senhor é
a aurora da esperança para o mundo,
o tempo dos
outorgados favores assegurados pela redenção — sendo a Idade Evangélica
apenas um parênteses intervindo, durante a qual a esposa de Cristo é
escolhida, para associar-se com o seu Senhor no grande trabalho da
restauração que Ele vem para realizar.
E já que a Igreja
de Cristo, que tem estado desenvolvendo-se durante a Idade Evangélica, há de
associar-se com o seu Senhor no grande trabalho de restituição da Idade
Milenária, a primeira obra de Cristo no segundo advento tem que ser o
ajuntamento da sua Igreja eleita, à qual é feita referência pelo profeta
(Sal. 50:5), dizendo: “Congregarei os meus santos, aqueles que fizeram
comigo um pacto por meio de sacrifícios.” Esta congregação ou tempo de ceifa
está no período de sobreposição das duas idades. Como sera mostrado, é um
período de quarenta anos,
*
que tanto termina
a [105]
Idade
Evangélica como introduz a Idade Milenária. (Veja o Vol. I. pp. 253-256;
270-274; ou pp. 219-221; 234-237, 2.ª edição; e o Mapa das Idades.) Este
período da ceifa não somente efetua a separação do trigo do joio na Igreja
nominal do Evangelho e no ajuntamento e glorificação da classe do trigo; mas
também há de efetuar a queima (destruição) do joio, ou imitação do trigo —
não como indivíduos; o fogo de destruição é simbólico assim como o joio), e
a vindima e destruição da frutificação corrupta da “vinha da terra” (ambição,
avareza e egoísmo humanos), que tem estado crescendo e amadurecendo através
de séculos nos reinos do mundo e nas várias organizações civis e sociais
entre os homens.
———————
*Veja
o Prefácio do Autor, página III-V
Embora que, quando
tratando do objetivo da volta do nosso Senhor, demonstramos que seria uma
vinda
pessoal,
nos permitam mais
uma vez guardar o estudante contra confusão de pensamento tomando em
consideração as duas aparentemente incompatíveis expressões do nosso Senhor
— “eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”
(aionos
idade),
e, “vou
preparar-vos lugar. E, ...
virei outra vez,
e vos
tomarei para mim mesmo”. (Mat. 28:20; João 14:2, 3) O seguinte incidente
servirá de ilustração da harmonia das duas promessas: — Um amigo disse a
outro enquanto estavam para separar-se, lembre-se, estarei contigo por toda
a tua viagem. Como? Naturalmente não em pessoa; pois tomaram trens em
direções opostas para lugares distantes. A idéia foi que em amor e
pensamento e cuidado um pelo outro, não seriam separados. Num sentido
semelhante, contudo mais amplo, o Senhor sempre tem estado com a sua Igreja,
o seu poder divino habilita-o para vigiar, dirigir e assistir esta Igreja
desde o princípio até o fim. No entanto, agora estamos considerando a
presença do nosso Senhor conosco não neste sentido figurativo, senão a
maneira da sua segunda presença pessoal e do seu aparecimento, “quando
naquele dia ele vier para ser glorificado nos seus santos e para ser
admirado em todos os que tiverem crido”.
As Escrituras
ensinam que Cristo vem de novo para reinar; que é necessário que ele reine
até que haja posto todos os inimigos de- [106]
baixo
de seus pés — todos os oponentes, todas as coisas que estorvariam a grande
restituição que ele vem para efetuar — o último inimigo a ser destruído é a
morte (1 Cor. 15:25, 26); e que ele reinará mil anos. É portanto apenas como
se deve esperar, que encontramos muito mais lugar na profecia dedicado ao
Segundo advento e os seus mil anos de reinado triunfante e derrota do mal,
do que aos trinta e quatro anos do primeiro advento para a redenção. E como
temos percebido que a profecia toca os vários pontos importantes desses
trinta e quatro anos, desde Belém e Nazaré até o fel e vinagre, as vestes
repartidas, a cruz, o sepulcro e a ressurreição, assim achamos que a
profecia do mesmo modo toca a vários pontos dos mil anos da segunda presença,
particularmente o seu começo e fim.
A segunda presença
do nosso Senhor abrangerá um período de tempo mais longo do que a primeira.
A missão do seu primeiro advento terminou em menos de trinta e quatro anos,
enquanto que são requeridos mil anos para levar a cabo a obra designada da
sua presença. Assim pode ver-se numa olhada que, ao passo que a obra do
primeiro advento não foi de menor importância do que aquela do segundo
advento — sim, ainda que foi
tão importante
que o
trabalho do segundo advento
nunca poderia ter
sido possível sem o primeiro
— porém não estava
tão diferente, e daqui requeria menos descrição do que a obra do segundo
advento.
Ao considerar o
segundo advento, igualmente como o primeiro advento, não devemos esperar
para todas as profecias marcarem um, particularmente significativo momento
da chegada do nosso Senhor, e chamarem a atenção de todos os homens ao fato
da sua presença. Não é tal o método usual de Deus; não foi tal o método no
primeiro advento. O primeiro advento do Messias não foi assinalado por
qualquer demonstração repentina ou surpreendente fora da ordem normal, senão
que foi manifestado e comprovado pelo cumprimento gradual de profecia,
mostrando a observadores
[107]
atentos que os
acontecimentos que deveriam ser esperados estavam efetuando-se em seu tempo.
E assim será no seu segundo advento. É de menor importância que descubramos
o momento preciso da sua chegada, do que discernirmos o fato da sua presença
quando ele tinha vindo, exatamente como no primeiro advento era importante
poder reconhecer a sua presença e quanto antes melhor, entretanto muito
menos importante foi para saber a data exata do seu nascimento. Ao
considerar o segundo advento, o ato de vinda e o momento de chegada estão
também freqüentemente no pensamento, enquanto que deve considerar-se como um
período
de presença,
como foi o
primeiro advento. O momento preciso no qual começaria essa presença
pareceria, então, menos importante, e o seu objetivo e trabalho durante o
período da sua presence receberia a consideração principal.
Devemos de ter em
mente, também, que o nosso Senhor já não é mais um ser humano; que como ser
humano se deu a si mesmo em resgate pelos homens, tendo tornado-se homem por
esse mesmo propósito. (I Tim. 2:6; Heb. 10:4, 5; I Cor. 15:21, 22) Ele está
agora exaltado soberanamente, à natureza divina. Portanto Paulo disse:
“ainda que tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o
conhecemos desse modo”. (2 Cor. 5:16) Ele foi ressuscitado dentre os mortos
um
Espírito
(Ser espiritual)
vivificante (I Cor. 15:45), e não um
homem,
da terra, terreno.
Já não é mais humano em nenhum sentido ou grau; pois não devemos esquecer do
que temos aprendido (Veja o Volume I, Estudo 10) — que as naturezas são
separadas e distintas. Desde que ele já não é mais em nenhum sentido ou grau
um ser humano, não devemos esperar para ele vir mais uma vez como ser humano,
como no primeiro advento. Sua segunda vinda há de ser numa maneira diferente.
Notando o fato de
que a
transformação
do nosso Senhor
desde a natureza humana até a divina na sua ressurreição foi uma
transformação ainda mais grande da que aconteceu uns trinta e
[108]
quatro anos
previamente, quando ele deixou a glória de ser espiritual e “se fez carne”,
podemos considerar com grande proveito muito minuciosamente todas as suas
ações durante os quarenta dias depois da sua ressurreição antes que fosse
“para o Pai”; porque é o Jesus ressurgido desses quarenta dias quem há de
vir de novo, e não o Cristo Jesus,
homem,
o qual se deu a si
mesmo em resgate nosso, à morte. Ele que foi morto como um ser de carne, foi
também na sua ressurreição vivificado um ser espiritual. — I Ped. 3:18*
———————
*Nesta
passagem as palavras “na” e “no” são fornecidas arbitrariamente pelos
tradutores, e são ilusórias. O grego diz simplesmente — “morto na carne, mas
vivificado no espírito”. O nosso Senhor foi morto um ser carnal ou humano,
mas foi vivificado dentre os mortos um ser espiritual. E visto que a Igreja
há de ser
“transformada”
para
que possa ser como Cristo, é evidente que a transformação que ocorreu no
Cabeça foi de uma espécie parecida a essa descrita como reservada para os
vencedores, os quais serão transformados da natureza humana em divina, e
feitos semelhantes a ele — “participantes da natureza divina”. Daqui, a
seguinte descrição da transformação dos santos é aplicável também ao seu
Senhor; a saber “Semeia-se em ignomínia, é ressuscitado em glória. Semeia-se
em fraqueza, é ressuscitado em poder. Semeia-se corpo animal, é ressuscitado
corpo espiritual.”
No seu segundo
advento Ele não vem para ser sujeito às autoridades que agora existem, para
pagar o tributo a César e para sofrer a humilhação, injustiça e violência;
mas vem para reinar, exercendo toda a autoridade no céu e na terra. Não vem
no corpo da sua humilhação, um corpo humano, que tomou para sofrer a morte,
inferior ao seu corpo glorioso anterior (Heb. 2:9); senão no seu corpo
espiritual glorioso, que é “a expressa imagem do seu Ser” (do Ser do Pai,
Deus) (Heb. 1:1, 3); visto que, por causa da sua obediência ainda até a
morte, já está soberanamente exaltado à semelhança e
natureza divina,
e foi
lhe dado o nome que é sobre todo nome — sendo excetuado o nome do Pai
unicamente. (Fil. 2:9; I Cor. 15:27) O Apóstolo mostra que “ainda não é
manifesto” ao nosso entendimento humano como Ele agora é; daqui não sabemos
o que havemos de ser quando se tornaremos feitos semelhantes a ele, mas nós
(a Igreja) podemos regozijarmo-nos na segurança
[109]
que algum dia
estaremos com ele, e seremos semelhantes a ele, e
assim como é
o veremos (1
João 3:2) — não como estava no seu primeiro advento em humilhação, quando
tinha deixado sua glória anterior e se fez pobre, para que pela sua pobreza
pudéssemos ser enriquecidos.
Se consideramos a
sabedoria e prudência dos métodos do nosso Senhor de manifestar a sua
presença aos seus discípulos depois da sua ressurreição como também
previamente, pode nos ajudá-lo a lembrarmos que a mesma sabedoria será
demonstrada nos seus métodos de revelar-se no seu segundo advento, tanto à
Igreja como ao mundo — métodos não necessariamente similares, mas em cada
caso bem convenientes para o seu objetivo, o que nunca está para alarmar ou
excitar os homens, senão para
convencer
os seus
raciocínios moderados e calmos das grandes verdades para produzirem
impressão sobre eles. O primeiro advento do nosso Senhor não foi um evento
espantador, excitante, nem alarmante. Quão quietamente e moderadamente veio!
Assim foi até tal grau que apenas os que tinham
fé e humildade
puderam
reconhecer na criança de nascimento humilde, no homem de dores, no amigo dos
humildes e pobres, e por fim no crucificado, o Messias já esperado por longo
tempo.
Depois da sua
ressurreição, a manifestação da sua presença seria naturalmente um fato mais
assombroso, particularmente quando considera-se a sua transformação de
natureza. Contudo o fato da sua ressurreição, junto com o fato da sua
natureza mudada, havia de ser manifestado plenamente, não a todo o mundo
nesse então, senão a testemunhas escolhidas que dariam testemunho
acreditável do acontecimento a gerações sucessivas. Se todo o mundo tivesse
inteirado-se do acontecimento naquele tempo, o testemunho estendendo-se aos
nossos dias provavelmente teria sido menos digno de confiança, sendo
colorido e torcido pelas idéias dos homens e misturado com as suas tradições,
a tal grau que a verdade poderia aparecer quase ou plenamente inacreditável.
Mas Deus a confiou apenas a testemunhas escolhidas, fiéis e meritórias; e en
[110]
quanto
notamos a consideração, que cada um note quão perfeitamente o
objetivo
foi concluído,
e quão clara, positiva e convincente foi a prova da ressurreição e
transformação de Cristo oferecida-lhes. Note também o cuidado com que evitou
alarmá-los ou indevidamente excitá-los enquanto fazia manifesto e dava
ênfase a estas grandes verdades. E pode assegurar-se de que a mesma
sabedoria, prudência e habilidade se manifestarão nos seus métodos de fazer
conhecer o fato da sua gloriosa presença no seu segundo advento. O
raciocínio calmo e moderado será convincente em todo caso, ainda que o mundo
em geral precisará de ser trazido por meio de disciplina severa para a
atitude apropriada para receber o testemunho, enquanto os que são de coração
reto terão o abençoado entendimento mais cedo. Todas as provas da sua
ressurreição e transformação à natureza espiritual não foram dadas aos seus
discípulos imediatamente, senão ao passo que podiam suportá-las e na maneira
calculada para impressioná-los o mais profundamente.
Durante os três
anos e meio do ministério do nosso Senhor, os seus discípulos haviam
sacrificado amigos, reputação, negócios, etc., para dedicar tempo e energia
ao anúncio da presença do Messias e o estabelecimento do seu reino. Mas eles
tinham idéias necessariamente cruas com respeito à maneira e ao tempo da
exaltação do seu Mestre, e da sua prometida exaltação com ele. Também não
era o pleno conhecimento nesse então necessário; foi realmente suficiente
que eles deviam aceitar cada passo como isto devia vir a ser. Portanto o
Mestre os ensinou pouco a pouco, tanto quanto eram aptos para aceitá-lo. E
perto do fim do seu ministério disse: “Ainda tenho muito que vos dizer; mas
vós não o podeis suportar agora. Quando vier, porém, aquele, o Espírito da
verdade, ele vos guiará a toda a verdade; ... e vós ensinará todas as coisas,
e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito.” — João 16:12, 13;
14:26.
Quem poderá contar
o seu grande desapontamento, ainda que
[111]
tanto quanto
tinham sido prevenidos contra isto, quando eles viram o Mestre
repentinamente tirado deles e ignominiosamente crucificado como um criminoso
— este cujo reino e glória eles tinham estado esperando e anunciando, e que
apenas cinco dias antes de sua crucificação tinha parecido a eles tão perto
da realização. (João 12:1, 12-19) Ainda quando souberam que ele foi
falsamente acusado e injustamente crucificado, isto não alterou o fato de
que as suas esperanças nacionais por longo tempo alimentadas de um rei
judaico, que restauraria a sua nação à influência e poder em conjunto com as
suas esperanças individuais, ambições e imaginações de cargos de importância
e altas honras no Reino, inesperadamente demoliram-se todas por este
desfavorável transtorno que tinham sofrido na crucificação do seu rei.
Muito bem sabia o
Mestre quanto desolados, incertos e perplexes eles se sentiriam; pois assim
foi escrito pelo profeta: “Ferirei o pastor, e as ovelhas se dispersarão.” (Zac.
13:7; Mar. 14:27) E durante os quarenta dias entre a sua ressurreição e
ascensão, portanto, foi a sua preocupação principal ajuntá-los de novo, e
restabelecer a sua fé nele como o Messias por longo tempo esperado, para
demonstrar-lhes o fato da sua ressurreição, e que desde sua ressurreição,
ainda que mantinha a mesma individualidade, ele já não era humano, senão um
ser spiritual exaltado, tendo “toda a autoridade no céu e na terra”.— Mat.
28:18.
Ele divulgava a
eles gradualmente a notícia da sua ressurreição — primeiro, através das
mulheres (Maria Madalena, e Joana, e Maria, mãe de Tiago, e Salomé, também
outras que estavam com elas — Mar. 16:1; Luc. 24:1, 10), que foram ao
sepulcro muito cedo para ungir o seu corpo morto com especiarias aromáticas.
Ao passo que pensavam a quem poderiam pedir para revolver a pedra da porta
do sepulcro, eis que houvera um grande terremoto; e quando vieram acharam a
pedra revolvida, e um anjo do Senhor estava sentado sobre a pedra, que disse
às mulheres: “Não temais vós; pois eu sei que buscais a Jesus, que foi
crucificado. Não está
[112]
aqui, porque
ressurgiu, como ele disse. Vinde, vede o lugar onde jazia; e ide depressa, e
dizei aos seus discípulos que ressurgiu dos mortos; e eis que vai adiante de
vós para a Galiléia; ali o vereis.” — Mat. 28:5-7.
Parece que Maria
Madalena separou-se das outras mulheres e correu a anunciá-lo a Pedro e João
(João 20:1, 2), enquanto as outras foram para dizer aos demais discípulos, e
que depois que ela tinha partido delas, Jesus apareceu às outras mulheres no
caminho, dizendo (Mat. 28:9, 10): “Salve.” E elas, aproximando-se,
abraçaram-lhe os pés, e o adoraram. Então lhes disse Jesus: “Não temais; ide
dizer a meus irmãos que vão para a Galiléia [para sua casa], ali me verão.”
E com temor e grande alegria correram a anunciá-lo aos outros discípulos.
Nos seus sentimentos misturados de surpresa, perplexidade, alegria, temor e
a sua confusão geral, quase não sabiam como relatar a sua experiência
estranha e maravilhosa. Quando Maria foi ter com Pedro e João, tristemente
disse: “Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram.” (João
20:2) As outras mulheres declararam que junto ao sepulcro tinham tido uma
visão de anjos que diziam estar ele vivo (Luc. 24:22, 23), e também como
elas mais tarde encontraram o Senhor no caminho. — Mat. 28:8, 10.
A maioria dos
discípulos evidentemente consideraram o seu relato como mera excitação
supersticiosa, todavia Pedro e João resolveram ir e ver por eles mesmos; e
Maria voltou ao sepulcro com eles. Somente o que Pedro e João viram era que
o corpo já não estava lá, e que os panos de enterro estavam ali deixados, e
que a pedra já estava revolvida da porta. Portanto, na perplexidade eles
voltaram, ainda que a Maria todavia ficou lá chorando. Enquanto chorava,
abaixou-se e olhou para dentro do sepulcro, e viu dois anjos, que
perguntaram-lhe “Mulher, por que choras?” Ela respondeu-lhes: “Porque
tiraram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.” E ao voltar-se para trás,
viu a Jesus ali em pé, mas não
[113]
sabia que era ele.
Perguntou-lhe Jesus: “Mulher, por que choras? A quem procuras?” Ela,
julgando que fosse o jardineiro, respondeulhe: “Senhor, se tu o levaste,
dize-me onde o puseste, e eu o levarei.” Então, no tom de voz familiar
anterior que ela prontamente reconheceu, disse-lhe Jesus: “Maria!”
Isto foi o
suficiente para estabelecer a sua fé na declaração do anjo, que Ele
ressurgiu, o que até esse momento lhe tinha parecido como um sonho ou um
delírio; e na sua alegria ela exclamou,
“Mestre!”
O seu primeiro
impulso foi o de abraçar-lhe, e permanecer em sua presença. Porém Jesus
informou-lhe moderadamente que agora ela tem uma missão para levar a cabo,
em testificar do fato da sua ressurreição, e que ele devia apressadamente
levar a mensagem e estabelecer a fé dos outros discípulos ainda na
perplexidade e incerteza, dizendo: “Deixa de me tocar [grego,
haptomai,
abraçar; não
demora para demonstração adicional da sua afeição agora]; porque ainda não
subi ao Pai [ainda estarei convosco por apenas um pouco de tempo]; mas vai a
meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e
vosso Deus.” (João 20:17) Por meio das outras mulheres também lhes tinha
informado que se reuniria com eles na Galiléia.
Em seguida, se
aproximou de dois discípulos tristes e perplexos, no momento em que iam
estes de Jerusalém para Emaús, e lhes perguntou o motivo da sua tristeza e
desanimação. (Luc. 24:13-35) E um deles respondeu-lhe: “És tu o único
peregrino em Jerusalém que não soube das coisas que nela têm sucedido nestes
dias? Ao que ele lhes perguntou: Quais? Disseram-lhe: As que dizem respeito
a Jesus, o nazareno, que foi profeta, poderoso em obras e palavras diante de
Deus e de todo o povo; e como os principais sacerdotes e as nossas
autoridades o entregaram para ser condenado à morte, e o crucificaram. Ora,
nós esperávamos que fosse ele
[114]
quem havia de
remir Israel; e, além de tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que estas
coisas aconteceram. [Aqui eles provavelmente estavam lembrando as palavras
de João 2:19, 21, 22.] Verdade é, também, que algumas mulheres do nosso meio
nos encheram de espanto; pois foram de madrugada ao sepulcro e, não achando
o corpo dele, voltaram, declarando que tinham tido uma visão de anjos que
diziam estar ele vivo. Além disso, alguns dos que estavam conosco foram ao
sepulcro, e acharam ser assim como as mulheres haviam dito; a ele, porém,
não o viram.”
Não é de admirar
que eles estiveram perplexos; quanto estranho isto tudo pareceu! quão
peculiar e sensacional tinham sido os acontecimentos dos passados poucos
dias!
Então o forasteiro
lhes pregou um sermão animador desde as profecias, mostrando-lhes que as
mesmas coisas que lhes tinham assim desanimado foram as coisas que os
profetas tinham predito concernentes ao verdadeiro Messias: que antes de que
Ele pudesse governar, abençoar e levantar o Israel e todo o mundo, primeiro
devia que redimi-los com a sua própria vida desde a maldição da morte, que
veio sobre todos através de Adão, e que depois, levantado para vida e glória
por Jeová, o Mestre deles cumpriria tudo o que pelos profetas foi escrito
concernente à sua glória e honra futura, tão verdadeiramente como ele tinha
cumprido essas profecias que predisseram os seus sofrimentos, humilhação e
morte. Um pregador admirável! e um sermão admirável foi esse! Iniciou novas
idéias e abriu novas expectativas e esperanças. Quando se aproximaram da
aldeia, eles o constrangeram para ficar com eles, porque era tarde, e já
declinava o dia. E entrou para ficar com eles. Estando com eles à mesa,
tomou o pão e, partindo-o, lhes dava. Abriram-se-lhes então os olhos; nisto
ele desapareceu de diante deles.
Não antes desse
momento o reconheceram, ainda que tinha anda
[115]
do, falado e
estado à mesa com eles. Ele foi reconhecido por eles não pela face, senão no
simples ato de abençoar e partir o pão na velha maneira familiar, assim
assegurando a sua fé no que já tinham ouvido — que tinha ressurgido, e que
os tornaria a ver.
Então os dois
discípulos surpreendidos e enlevados na mesma hora levantaram-se e voltaram
para Jerusalém, disseram um para o outro: “Porventura não se nos abrasava o
coração, quando pelo caminho nos falava, e quando nos abria as Escrituras?”
Chegando em Jerusalém encontraram reunidos os outros regozijando-se também,
os quais diziam: “Realmente o Senhor ressurgiu, e apareceu a Simão.” Então
os dois contaram o que acontecera no caminho, e como se lhes fizera conhecer
no partir do pão. Provavelmente estavam quase todos lá naquela noite, casas,
trabalhos, e todos os outros assuntos foram esquecidos — Maria Madalena com
suas lágrimas de alegria, dizendo: Reconheci-lhe no momento que chamou o meu
nome — não pude acreditar a afirmação do anjo da sua ressurreição até então;
e as outras mulheres declarando a sua experiência maravilhosa da manhã, e
como lhe tiveram encontrado pelo caminho. Em seguida Simão teve a sua
história para contar; e então aqui haviam duas testemunhas adicionais desde
Emaús. Que dia mais memorável! Não é de admirar que eles desejavam reunir-se
juntos no primeiro dia de todas as semanas depois disso, para conversar
sobre o assunto e trazer à lembrança todas as circunstâncias associadas com
este evento estupendo da ressurreição do Senhor, e para os seus corações
“abrasarem” muitas vezes.
Enquanto a pequena
companhia animada e extática estava assim reunida e relatando uns para os
outros as suas várias experiências, o próprio Senhor Jesus se apresentou no
meio deles (Luc. 24:36-49) e disse-lhes: “Paz seja convosco.” De onde ele
tinha vindo? Todas reuniões tais realizavam-se secretamente com as portas
cerradas por medo dos judeus (João 20:19, 26), porém aqui estava um apare-
[116]
cimento repentino sem nenhuma aproximação visível; mas eles, espantados e
atemorizados, pensavam que viam algum espírito. Então ele confortou-os,
disse-lhes para acalmarem os seus medos, e lhes mostrou as suas mãos e os
seus pés, dizendo: “sou eu mesmo; apalpai-me e vede; porque um espírito não
tem carne nem ossos, como percebeis que eu tenho”. Não acreditando eles
ainda, por causa da alegria, e estando admirados, perguntou-lhes Jesus:
Tendes aqui alguma coisa que comer? Então lhe deram um pedaço de peixe
assado, o qual ele tomou e comeu diante deles. Então lhes abriu o
entendimento,
os seus
olhos mentais, e explicou-lhes as Escrituras, mostrando da lei e dos
profetas que estas coisas tinham acontecido exatamente como preditas.
Entretanto, Tomé estava ausente (João 20:24); e quando os outros discípulos
disseram-lhe que tinham visto o Senhor, ele não acreditou, mas disse: “Se eu
não vir o sinal dos cravos nas suas mãos, e não meter o dedo no lugar dos
cravos, e não meter a mão no seu lado, de maneira nenhuma crerei.”
Oito dias passaram
sem novas manifestações adicionais, e tiveram tempo para pensarem calmamente
e discutirem as experiências daquele dia magnífico, quando, estavam os
discípulos de novo reunidos como antes, Jesus pôs-se no meio deles e disse:
“Paz seja convosco.” (João 20:26) Esta vez Tomé estava presente, e o Senhor
dirigiu-se a ele, e disse: “Chega aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos;
chega a tua mão, e mete-a no meu lado; e não mais sejais incrédulo, mas
crente.” Deste modo demonstrou que Ele sabia o que Tomé tinha dito, sem que
lhe fosse contado, e forneceu a prova da sua ressurreição que Tomé tinha
declarado que lhe convenceria; e com alegria respondeu-lhe Tomé:
“Senhor meu, e Deus meu!”
Depois disso, ali
realmente devia de ter um intervalo bastante longo antes de haver mais
alguma manifestação da presença do Senhor, e os discípulos que estavam na
Galiléia começaram a pensar no lar e no futuro; e lembrando-se da mensagem
do Senhor pelas mulheres, e de que iria adiante deles para a Galiléia, eles
[117]
foram
para lá. Provavelmente foi no caminho deles, que Jesus encontrou-os, como
Mateus o relata, num monte. Estavam perplexos; já não sentiram a mesma
familiaridade que outrora tinham para com ele; desde a sua crucificação
pareceu-lhes tão grandemente mudado desta maneira que ele costumava ter —
apareceu e desapareceu em tempos e lugares tão peculiares; já não
pareceu-lhes como “Cristo Jesus, homem”; portanto diz Mateus: “o adoraram;
mas alguns duvidaram”. Depois de umas poucas palavras com eles o Senhor
“desapareceu” de diante deles, e deixou-os ficarem curiosos por saber o que
em seguida aconteceria. Durante algum tempo depois da sua volta para
Galiléia não aconteceu nada extraordinário, e não havia mais indicação da
presença do Senhor. Certo que reuniram-se e discutiam a situação e queriam
saber por que não apareceu a eles mais freqüentemente.
Enquanto esperavam,
os dias e as semanas pareciam-lhes compridos. Eles tinham há muito tempo
abandonado as ocupações ordinárias da vida, para seguir o Senhor de lugar em
lugar, aprendendo dele e pregando a outros: “É chegado o reino dos céus.”
(Mat. 10:5-7, AL; IBB) Não queriam agora voltar às velhas ocupações.
Entretanto, como deveriam proceder com o trabalho do Senhor? Compreenderam a
situação claramente e o suficiente para saber que já não podiam pregar como
dantes que o reino está próximo; pois todo o povo sabia que o seu Mestre e
Rei tinha sido crucificado, e ninguém sem ser eles mesmos sabiam da sua
ressurreição. Enquanto todos os onze estavam assim perplexos e ansiosos,
esperando a algo, não sabendo o que, Pedro disse: Bem, não podemos ficar
inativos; voltarei ao meu trabalho anterior de pescar; e seis dos outros
disseram: Faremos o mesmo: Nós também vamos contigo. (João 21:3) É provável
que os demais também retornaram aos seus empregos anteriores.
Quem pode duvidar
que o Senhor estivesse invisivelmente presente com eles muitas vezes
enquanto iam comentando entre si, dominando e dirigindo o curso das
circunstâncias, etc., para o seu
[118]
melhor bem? Se
tivessem eles grande sucesso e viessem a ser absorvidos inteiramente pelo
interesse de trabalho, logo se tornariam impróprios para o mais alto serviço;
contudo se eles não tivessem sucesso nenhum, pareceria como a ação de
forçá-los; portanto o Senhor adotou um plano que lhes ensinou uma lição tal
como muitas vezes ensina aos seus seguidores, a saber: que os sucessos ou
fracassos de seus esforços, em qualquer direção, ele pode controlar, se ele
quiser.
A velha empresa de
pescadores reorganizou-se: juntaram seus barcos, redes, etc., e partiram
para a sua primeira pesca. Mas trabalharam a noite toda e não apanharam
nenhum peixe, e começaram de desanimar-se. Pela manhã um forasteiro na praia
chama a eles para saber do seu sucesso. Sucesso infeliz! Nada apanhamos,
respondem. Procurai outra vez, disse o forasteiro. Agora lançai a rede à
direita do barco. Não adianta, forasteiro, temos procurado nos dois lados
durante toda a noite, e se houvesse peixes num lado haveriam também no outro.
Entretanto, tentaremos de novo e deixaremos você ver. Assim fizeram, e
apanharam uma quantidade imensa. Que estranho! Observaram alguns; mas o
ligeiro e impressionável João logo entendeu a idéia correta, e disse: Irmãos,
apenas o Senhor poderia fazer isto. Não lembrais a alimentação das multidões,
etc? Esse tem que ser o Senhor na praia, e este é outro modo que tem
escolhido para manifestar-senos. Não lembrais que foi mesmo assim quando por
primeira vez o Senhor nos chamou? Então, também, tínhamos a noite toda, e
nada apanhamos até que ele chamou-nos, dizendo: “Faze-te ao largo e lançai
as vossas redes para a pesca.” (Luc. 5:4-11) Sim, claro que é o Senhor,
ainda que, depois da sua ressurreição, não podemos reconhecê-lo pela sua
aparência. Agora aparece numa variedade de formas; porém cada vez conhecemos
que é ele por algumas circunstâncias peculiares como esta, trazendo à
lembrança alguns incidentes marcados do nosso passado conhecimento com ele.
E enquanto eles
desembarcaram notaram que Jesus tinha tanto
[119]
pão como peixes, e
aprenderam a lição de que sob sua direção e cuidado no seu serviço não
seriam abandonados para morrer de fome. (Luc. 12:29, 30) Não lhe perguntaram
se era o Senhor; pois nesta ocasião como em outras, sendo iluminados os
olhos do
seu entendimento,
lhe reconheceram,
não pela vista física, senão pelo milagre. Então seguiram as instruções
dessa hora deleitável, tranqüilizando Pedro da sua continuada aceitação
apesar de sua negação ao Senhor, pelo qual arrependeu-se e chorou. Agora
aprendeu novamente do amor do seu Mestre, e do seu privilégio continuado de
pastorear as ovelhas e os cordeirinhos. Parece-nos que ouvimos o Senhor
dizer: Não te é preciso voltar-te à vocação de pescador, Pedro: Eu te chamei
uma vez para ser um pescador de homens, e, tendo certeza de que teu coração
continuaria leal e zeloso, renovo a tua comissão como um pescador de homens.
“Estando com eles,
ordenou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a
promessa do Pai, a qual (disse ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade,
João batizou em água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo, dentro de
poucos dias.” (At. 1:4, 5) Portanto vieram a Jerusalém, como foram
instruídos, e já fez quarenta dias depois da ressurreição dele, que reuniu-se
com eles pela última vez e falou com eles. Nesta ocasião armaram-se de
coragem para perguntar-lhe acerca do reino que lhes tinha prometido, dizendo:
“Senhor, é neste tempo que restauras o reino a Israel?” Este pensamento do
reino era o único predominante na mente de todo judeu. Compreenderam que
Israel havia de ser líder entre as nações sob o Messias, mas não sabiam dos
longos Tempos dos Gentios, e ainda não viram que a bênção principal tinha
sido tirada do Israel segunda a carne (Mat. 21:43; Rom. 11:7), e que eles
mesmos haviam de ser membros do novo Israel (espiritual), o sacerdócio real
e nação santa, por meio de qual, como o corpo de Cristo, viria a bênção do
mundo. Ainda não entenderam nenhuma destas coisas. Como poderiam? Eles não
tinham ainda recebido o Espírito Santo de adoção como filhos, mas estavam
ainda sob a
[120]
condenação; porque,
embora o sacrifício de resgate tinha sido feito pelo Redentor, ainda não
tinha sido formalmente apresentado em nosso favor no Santíssimo, no próprio
céu. (João 7:39) Daqui o nosso Senhor não tentou fazer nenhuma resposta
explicativa à pergunta deles, senão apenas disse: “A vós não vos compete
saber [agora] os tempos ou as épocas, que o pai reservou à sua própria
autoridade.
Mas recebereis
poder,*
ao descer sobre
vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em
toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra.” — At. 1:7, 8.
———————
*Este
prometido poder para entender e saber os tempos ou as épocas, e todas as
coisas concernentes a um testemunho próprio, aplica-se à Igreja inteira
desde o princípio até o fim; e sob a orientação e poder do Espírito Santo,
está provido o sustento a tempo concernente a cada lineamento do plano, afim
de que possamos ser as testemunhas, ainda até a consumação desta idade. —
Compare João 16:12, 13.
Então o Senhor,
que estava andando com eles, quando chegaram ao Monte das Oliveiras,
levantando as mãos, os abençoou; e apartou-se deles; e foi levado para cima;
e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. (Luc. 24:48-52; At.1:6-15)
Agora começaram a ver algo mais do plano de Deus. O Senhor que desceu do céu
tinha voltado para o Pai, como lhes tinha dito antes de sua morte — tinha
partido agora para uma terra longínqua, a fim de tomar posse do reino
prometido e depois voltar (Luc. 19:12); e entretanto haviam de ser as suas
testemunhas
até os confins da
terra para chamar e preparar um povo para recebê-lo quando ele vier para ser
glorificado nos seus santos, e para reinar como Rei dos reis e Senhor dos
senhores. Viram a sua nova missão de proclamarem a toda criatura um vindouro
Rei do céu com “toda a autoridade no céu e na terra”, para ser um trabalho
muito mais importante do que aquele dos anos procedentes, quando eles
[121]
anunciavam
“Cristo Jesus, homem”, e seguiam-no, aquele que “era desprezado, e rejeitado
dos homens”. O seu levantado Senhor foi mudado de fato, não somente na sua
aparência pessoal — aparecendo às vezes num modo e lugar, e de novo numa
distinta maneira e lugar, manifestando sua “toda autoridade” — mas também
foi mudado de condição ou natureza. Já não atraiu os judeus, nem manifestou-se
a eles; pois desde a sua ressurreição ninguém viu-o em nenhum sentido,
exceto os seus amigos e seguidores. Suas palavras: “Ainda um pouco, e o
mundo não
me verá
mais”;
foram
assim autenticadas.
Assim foi
estabelecida a fé dos apóstolos e da Igreja primitiva, no fato da
ressurreição do Senhor. As suas dúvidas se dispersaram, e alegraram-se os
seus corações; e voltaram para Jerusalém e perseveraram unanimemente em
oração e súplica e estudo das Escrituras, aguardando a adoção prometida pelo
Pai, e a sua adoção com entendimento espiritual, e com especiais dons
milagrosos de poder, para capacitá-los a convencer aos israelitas
verdadeiros, e para estabelecer a Igreja do Evangelho, no dia de Pentecostes.
— At. 1:14; 2:1.
Ainda que o nosso
Senhor no seu segundo advento não manifestará a sua presença da mesma
maneira em que fazia durante esses quarenta dias depois da sua ressurreição,
todavia temos a sua garantia de que os “irmãos” não estão “em trevas”.
Antes, teremos uma ajuda que eles não tinham e não podiam ter para ajudá-los
durante esses quarenta dias, a saber,
“poder
do alto”, para
guiarnos ao entendimento de toda a verdade devida para ser entendida, e,
ainda como prometido, nos anunciará as coisas
vindouras.
Daqui a seu
tempo teremos pleno entendimento da maneira, do tempo, e das circunstâncias
concomitantes do seu aparecimento, os quais, se cuidadosamente vigiados e
notados, não serão menos convincentes do que as evidências da ressurreição
do nosso Senhor
[122]
fornecidas à
Igreja primitiva, ainda que de um gênero diferente.
Que o nosso Senhor
no seu segundo advento
poderia
assumir a forma
humana, e assim aparecer aos homens, tal como tem feito a seus discípulos
depois da sua ressurreição, não cabe dúvida; não somente porque assim
apareceu em forma humana durante esses quarenta dias, senão também porque
seres espirituais tinham no passado manifestado o poder de aparecer como
homens na carne e em várias formas. Mas tal manifestação estaria fora de
harmonia com a tendência geral do plano de Deus, tanto como fora de harmonia
com as dadas indicações bíblicas, relativas a maneira das suas manifestações,
como veremos. Em lugar disso, é o plano do Senhor que o seu Reino espiritual
comunicará, operará, e manifestará a sua presença e poder por meio de seres
humanos, carnais terrestres. Tal como o príncipe deste mundo, Satanás, ainda
que não visto pelos homens, exerce uma influência extensa no mundo por
intermédio daqueles que estão sujeitos a ele, possuindo e sendo controlados
pelo seu espírito, do mesmo modo o novo Príncipe da Paz, o Senhor
principalmente operará e manifestará a sua presença e poder por meio de
seres humanos, sujeitos a ele e possuindo e sendo controlados pelo seu
espírito.
Ver com o olho
natural e ouvir com o ouvido natural não é tudo que se pode ver e ouvir.
“Ninguém jamais viu a Deus.” Assim, no entanto todos os filhos de Deus o têm
visto e conhecido, e tido comunhão com ele. (João 1:18; 5:37; 14:7)
Ouvimos
o convite de
Deus, a nossa “vocação celestial”,
ouvimos
a voz do nosso
Pastor, e estamos constantemente
fitando
os olhos em Jesus,
e vemos
o
prêmio, a coroa da vida que ele promete — não por vista e ouvido natural,
senão pelo nosso entendimento. Muito mais preciosa é a visão que temos do
nosso Senhor glorificado como ser espiritual, Rei da glória exaltado
soberanamente, tanto nosso Redentor como nosso Rei, pelos iluminados olhos
do nosso coração e fé, do que a visão dada ao olho natural antes de
Pentecostes.
[123]
Havia uma
necessidade do nosso Senhor aparecer em tal maneira ante seus discípulos,
depois da sua ressurreição, qual necessidade não existirá no seu segundo
advento. De fato, aparecer assim no seu segundo advento seria prejudicial ao
propósito que havia de efetuar-se nesse então. Seu objetivo de aparecer a
seus discípulos depois da sua ressurreição foi o de convencê-los que, aquele
que foi morto, está vivo pelos séculos, para que eles pudessem ir adiante
como testemunhas do fato da sua ressurreição (Luc. 24:28), e para que
pudesse ser o seu testemunho um firme fundamento para a fé de gerações
vindouras. Desde que ninguém pode vir a Deus com aceitabilidade, para
receber o espírito de adoção, sem
fé
em Cristo, tornou-se
necessário não somente por causa dos discípulos naquele tempo, mas também a
todos depois, que as
evidências
da sua
ressurreição e transformação sejam tais que
os homens naturais
pudessem compreender e apreciar.
Depois de tornarem-se
participantes do Espírito Santo e entenderem coisas espirituais (Veja I Cor.
2:12-16), poderiam ter crido aos anjos diante do sepulcro, que ele tivesse
ressurgido da condição de ser morto, ainda se tivessem visto o corpo carnal
do Cristo Jesus, homem, todavia deitado no sepulcro; mas não antes — o corpo
havia de estar ausente para fazer possível a eles a fé na sua ressurreição.
Depois do Espírito Santo habilitá-los a discernir as coisas espirituais,
poderiam ter crido no testemunho dos profetas que ele precisava morrer e
ressurgir
dentre os mortos,
e que seria
exaltado soberanamente como Rei da Glória, sem haver necessidade de
aparecer como um
homem,
e assumir vários corpos de carne como também um vestuário, para que eles
pudessem tocá-lo e
vê-lo
ascender. Porém,
tudo isso foi necessário a eles e a todos os homens naturais. Crendo, nós
nos aproximamos de Deus por meio dele e recebemos a remissão dos pecados e o
espírito de adoção, para compreendermos as coisas espirituais.
Ainda quando
estava removendo os obstáculos
naturais
à fé, por
assumir forma humana, etc., o nosso Senhor
convenceu
os discípu-
[124]
los, e
os fez
testemunhas
para outros, não
pelo seu tato natural e visão, senão por raciocinar com eles sobre as
Escrituras: “Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as
Escrituras; e disse-lhes: Assim está escrito que o Cristo padecesse, e ao
terceiro dia ressurgisse dentre os mortos; e que em seu nome se pregasse o
arrependimento para remissão dos pecados, a todas as nações, começando por
Jerusalém.
Vós sois
testemunhas destas coisas.”
(Luc. 24:45-48)
Pedro também declara este propósito claramente, dizendo: “A este ressuscitou
Deus ao terceiro dia e
lhe concedeu que se
manifestasse,
não a todo o povo,
mas às testemunhas predeterminadas por Deus, a nós, que comemos e bebemos
juntamente com ele, depois que ressurgiu dentre os mortos; este nos mandou
pregar ao povo, e testificar que ele [o ressuscitado Jesus] é o que por Deus
foi constituído juiz dos vivos e dos mortos.” — At. 10:40-42.
Com o nosso Senhor,
depois da sua ressurreição, foi simplesmente uma questão de expediente
quanto ao método de aparecer a seus discípulos que efetuaria melhor o seu
objetivo, o de manifestar a sua ressurreição e transformação de natureza. De
aparecer em
uma chama de fogo,
como o
anjo apareceu a Moisés do meio duma sarça ardente. (Êx.3:2), ele poderia na
verdade ter conversado como eles, mas a evidência assim dada estaria longe
de ser tão convincente como o método que adotou, tanto para os Apóstolos
como para o mundo em geral ao qual deram testemunho.
Se ele tivesse
aparecido na glória da forma espiritual, como fez o anjo a Daniel (Dan.
10:5-8), a glória teria sido maior do que as testemunhas poderiam ter
suportado. Provavelmente teriam alarmado-se até o grau que seriam incapazes
de receber instruções dele. A ninguém, exceto a Paulo, o Senhor nunca
apareceu desta maneira; e Paulo ficou dominado por essa aparição instantânea
da sua glória que caiu por terra e foi cegado pela sua luz, que
[125]
excedia o
esplendor do sol ao meio-dia.
No nosso exame do
método de manifestação adotado pelo nosso Senhor durante esses quarenta dias,
vimos que ele
“permitiu”
a fazer-se
manifesto ainda que às escolhidas testemunhas somente umas poucas vezes, e
ainda apenas brevemente. O tempo inteiro que ele manifestava-se a eles, se
fosse reduzido a um dia, em vez de ser de tempo em tempo durante os quarenta
dias, provavelmente teria sido menos de doze horas, ou a octogésima parte de
todo esse tempo. Sendo isto verdadeiro, é evidente que ele estava presente
com eles
invisível
quase setenta e
nove a octogésima parte desse período de quarenta dias. E ainda quando lhes
fazia
manifestações,
não eram (exceto
uma vez, no caso do São Tomé) numa forma exatamente como a que tão
intimamente tinham conhecido durante três anos, e que tinham visto apenas
uns poucos dias antes. Nem sequer uma vez está notificado que o conhecessem
pelas feições familiares do seus rosto, nem ainda que fosse reconhecido pela
mesma aparência como em outras manifestações.
Maria supôs que
fosse “o jardineiro”. Para os dois no caminho de Emaús foi “um peregrino”.
Foi como um forasteiro para os pescadores no mar da Galiléia, e para os onze
no cenáculo. Em toda ocasião foi reconhecido pelas suas ações, palavras, ou
pelos tons familiares da sua voz.
Quando Tomé
declarou que somente a prova que satisfaria os seus sentidos naturais da
vista e o toque seria aceitável para ele, o Senhor, ainda que admitiu a sua
exigência repreendeu-o levemente, dizendo: “Porque me viste, creste?
Bem-aventurados os que
não viram
e creram.” (João
20:27-29) A evidência mais forte foi esta que não apresentou-se à vista
natural; e mais abençoados são os que estão prontos para receber a verdade
por meio de quaisquer provas que Deus digne-se de confirmá-las.
[126]
Assim Jesus lhes
demonstrou, não somente que teve o poder de aparecer numa variedade de
maneiras e formas, senão também que nem sequer um desses corpos que eles
viram fosse o seu glorioso corpo espiritual ainda que os fatos da sua
ressurreição e presence manifestaram-se assim a eles. As distintas formas, e
os longos intervalos de presença invisível sem nenhuma manifestação aparente,
evidenciou o fato que ainda que o seu Senhor e Mestre estava vivo e ainda
não tinha subido ao Pai, já era um ser espiritual, realmente invisível à
vista humana, porém com a habilidade de manifestar a sua presença e poder
numa variedade de maneiras como aprouver.*
A criação do
corpo e da roupa em que apareceu a eles, no mesmo quarto em que estavam
reunidos, foi prova inquestionável de que Cristo já não era mais um humano,
ainda que assegurou aos seus discípulos de que o corpo que eles viram, e que
Tomé apalpou, foi um verdadeiro corpo de carne e ossos, e não uma mera visão
ou aparição.**
Como
ser humano não poderia entrar no quarto sem
[127]
abrir a porta, mas
como ser espiritual podia, e lá num instante criou e assumiu tal corpo de
carne e tal roupa qual achou conveniente para o propósito pretendido.
——————
*A
ocorrência registrada por Lucas (4:30) não deve considerar-se como um caso
paralelo ao seu aparecimento depois da sua ressurreição. Esse não foi um
desaparecimento no sentido de tornar-se invisível ao povo. Foi apenas um
ágil movimento rápido, pelo qual iludiu o desígnio mortífero dos seus
inimigos. Antes de que tinham efetuado seus planos para a sua morte, ele
virou-se, e, passando pelo meio deles, ninguém tinha coragem ou poder para
molestá-lo, porque ainda não era chegada a sua hora.
**Que
ninguém precipitadamente suponha que aqui estamos seguindo o Espiritismo, ou
qualquer outro
ismo.
Estamos
simplesmente seguindo e logicamente conectando os preceitos apostólicos. A
vasta diferença entre o ensino bíblico, isto é, a falsificação dele
promulgada por Satanás, conhecida por Espiritualismo, nós distintamente
discerniremos e examinaremos num volume seguinte. É suficiente aqui indicar
que o Espiritismo procura a comunicação entre
homens mortos
e
homens vivos, enquanto a Bíblia condena a isto (Is. 8:19), e ensina que tais
comunicações quais foram verdadeiras têm sido feitas somente por seres
espirituais, tais como anjos, e pelo nosso Senhor; e não pelo nosso Senhor
enquanto foi “Cristo Jesus,
homem”,
nem enquanto ele
estava morto, senão depois da sua ressurreição, quando tinha tornado-se
“espírito vivificante”.
Nem por um momento
podemos admitir a sugestão oferecida por alguns, de que o nosso Senhor
abrisse as portas sem ser observado; porque o registro é bem claro que,
chegou Jesus,
estando as portas
fechadas,
pôs-se no meio
deles — provavelmente muito cuidadosamente estavam também barradas as portas
cerradas “por medo dos judeus”. — João 20:19, 26.
A lição da sua
natureza transformada foi ainda enfatizada pela sua maneira de sair da vista
deles: “ele
desapareceu
de diante
deles”. O corpo humano de carne e ossos, etc., e a sua roupa, nos quais
apareceu
repentinamente com as portas cerradas não saiu pela porta, senão
simplesmente desaparecia ou dissolvia-se em mesmos elementos dos quais os
tinha criado há uns poucos momentos. Ele
desaparecia de
diante
deles, e já não era mais
visto
por eles quando a
carne e os ossos e a roupa no qual tinha manifestado-se eram dissolvidos,
ainda que sem dúvida continuava com eles — invisivelmente presente; e assim
como consta grande parte do tempo durante esses quarenta dias.
Em ocasiões
especiais, para instrução especial, Deus tem dado poder semelhante a outros
seres espirituais, anjos, habilitando-lhes aparecer como homens, em corpos
de carne e ossos que comeram e falaram a esses, aos quais instruíram
exatamente assim como o Senhor fez. Veja Gên. 18; Juí. 6:11-22; 13:3-20; e
os comentários sobre estes no Vol. I, pp. 206 a 210; ou pp. 178-180, 2.ª
edição.
O poder
manifestado pelo nosso Senhor, e pelos anjos que mencionados, para criar e
dissolver a roupa em que apareceram, foi igualmente sobre-humano como a
criação e dissolução dos seus corpos humanos assumidos; e os corpos não
foram mais os seus corpos espirituais gloriosos nem foram as roupas que
usaram. Deve-se lembrar que a túnica sem costura e outras vestes que nosso
Redentor usava antes da sua crucificação foram repartidas
[128]
entre os soldados
romanos, e que o lenço estava enrolado num lugar à parte no sepulcro (João
19:23, 24; 20:5-7), assim que as roupas com quais apareceu nas ocasiões
mencionadas, precisavam ter sido criadas especialmente, e provavelmente
foram as mais apropriadas para cada ocasião. Por exemplo, quando apareceu
como um jardineiro a Maria, provavelmente estava com tal roupa qual um
jardineiro usaria.
Que os corpos nos
quais o nosso Senhor apareceu foram verdadeiros corpos humanos, e não meras
ilusões, ele deu a eles para entenderem claramente quando comeu diante
deles, e convidou-os para apalparem-no e verem que o corpo era verdadeira
carne e verdadeiros ossos, dizendo: “Por que estais perturbados? ... Olhai
as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpaime e vede; porque
um
espírito não tem carne nem ossos,
como percebeis que
eu tenho.”
Alguns cristãos
tiram umas conclusões muito absurdas desta expressão do nosso Senhor quanto
à realidade do seu adotado corpo de carne e ossos. Eles consideram o corpo
assumido como o seu corpo espiritual, e declaram que um corpo espiritual é
carne e ossos, e semelhante a um corpo humano, com exceção de que alguma
coisa indefinível, que eles chamam espírito, flui pelas suas veias em vez de
sangue. Parecem desatender a declaração do nosso Senhor, de que este não era
um corpo espiritual — porque um espírito não tem carne nem ossos. Se acaso
esquecem o relato de João, de que “ainda não é manifesto” o que é um corpo
espiritual, e que não saberemos até que seremos transformados e feitos
“semelhantes a ele” porque assim como é o veremos? (I João 3:2) Se também
esquecem a declaração explícita do apóstolo Paulo de que
“carne e sangue
não
podem herdar o reino de Deus”? — e a sua garantia adicional de que
portanto
todos os
herdeiros de Cristo também serão
“transformados”?
— I Cor.
15:50, 51.
Muitos cristãos
têm a idéia que o glorioso corpo espiritual do
[129]
nosso Senhor é o
mesmo corpo que foi crucificado e depositado no sepulcro de José; esperam,
quando verem o Senhor em glória, identificá-lo pelas cicatrizes que recebeu
no Calvário. Isto é um grande erro, o qual deve manifestar-se com um pouco
de consideração. — Primeiro, provaria que o seu corpo ressuscitado não fosse
glorioso nem perfeito, senão cicatrizado e desfigurado. Segundo, provaria
que de fato soubéssemos o que é um corpo espiritual, apesar da declaração do
Apóstolo ao contrário. Terceiro, provaria que o preço da nossa redenção
tivesse sido retirado, pois Jesus disse: “darei pela vida do mundo ... a
minha carne”. Foi a sua carne, a sua vida
como um homem,
a sua
humanidade, a qual foi sacrificada para a nossa redenção. E quando ele foi
vivificado de novo pelo poder do Pai, não foi para a existência humana;
porque esta foi sacrificada como o preço de nossa compra. E se esse preço
tivesse sido retirado, estaríamos ainda sob a condenação da morte, e sem
esperança.
Não temos mais
razão de supor, que o corpo espiritual do nosso Senhor depois da sua
ressurreição seja um corpo humano, nem temos motivo para supor, que o seu
corpo espiritual antes do seu primeiro advento fosse humano, ou que outros
seres espirituais tenham corpos humanos; porque um espírito não tem carne
nem ossos; e, diz o apóstolo Pedro, o nosso Senhor foi morto na carne, mas
vivificado no espírito.
Não obstante, o
corpo humano do nosso Senhor foi removido sobrenaturalmente do sepulcro;
porque se tivesse ficado lá, teria sido um obstáculo insuperável à fé dos
discípulos, que ainda não foram instruídos nas coisas espirituais — pois “o
Espírito ainda não fora dado”. (João 7:39) Não sabemos nada a respeito do
que foi feito dele, salvo que sabemos que não teve decomposição nem
corrupção. (At. 2:27, 31) Quer fosse dissolvido em gases, quer ainda esteja
preservado em algum lugar como o grande memorial do amor de Deus, da
obediência de Cristo, e da nossa redenção,
[130]
ninguém sabe — nem
é necessário tal conhecimento. Que Deus milagrosamente escondeu o corpo de
Moisés, está nos assegurado (Deut. 34:6; Jud. 9) e que como
memorial
Deus
milagrosamente preservou de corrupção o maná no vaso de ouro, o qual foi
posto na Arca sob o Propiciatório no Tabernáculo, e que era um símbolo da
carne do nosso Senhor, o pão do céu, também sabemos. (Êx. 16:20, 33; Heb.
9:4; João 6:51-58) Por isso, não nos surpreenderá, se no Reino, Deus mostrar
ao mundo o corpo de carne, crucificado para dar por todos o resgate como seu
representante — não permitindo a corrupção, mas preservando como perpétuo
testemunho do amor infinito e da obediência perfeita. É pelo menos possível
que João 19:37 e Zacarias 12:10 possam ter tal cumprimento. Aqueles que
clamavam: “Seja crucificado”, talvez poderão, como testemunhas, identificar
o mesmo corpo furado pela lança e rasgado pelos cravos e espinhos.
Considerar o corpo
glorioso do nosso Senhor como um corpo de carne de modo algum não presta
esclarecimentos a respeito dos seus aparecimentos peculiares e repentinos
durante esses quarenta dias antes da sua ascensão. Como poderia ele tão
repentinamente aparecer e então desaparecer? Como foi que ele ocultou-se
quase constantemente invisível durante esses quarenta dias? E por que foi
que a sua aparência cada vez estava tão alterada para não ser reconhecida
como a mesma vista em qualquer outra ocasião anterior, nem como o que estava
tão bem conhecido e amado por todos, antes da sua crucificação — apenas uns
poucos dias antes? Não bastará meramente dizer que estes foram milagres,
pois então algum uso ou necessidade de milagres deveria ser mencionado. Se o
seu corpo depois da sua ressurreição fosse carne e ossos, e o mesmo corpo
que foi crucificado, com todas as feições e cicatrizes,
por que
fez milagres que
não somente não estabeleceram esse fato, mas também foram provavelmente como
vemos, para ensinar ao contrário? — que ele mesmo já não era humano — carne
e ossos — mas um ser espiritual que podia ir e vir
[131]
como o vento,
assim que ninguém poderia saber donde vinha e para onde ia, porém quem, para
o propósito de instruí-los, apareceu
como
um homem
em
vários corpos de
carne e ossos que ele criava e dissolvia segundo as ocasiões requeressem.
Antes da crucificação do nosso Senhor, ele tinha relações amistosas com os
seus discípulos, mas depois da sua ressurreição, ainda que o seu amor para
eles não tinha diminuído, a sua maneira para com eles estava mais reservada.
Sem dúvida, isto foi para impressioná-los mais forçosamente com a dignidade
e honra da sua alta exaltação, e para inspirar a devida referência à sua
personalidade e autoridade. Ainda que como um homem, Jesus, nunca necessitou
dessa dignidade de comportamento que merece respeito, contudo, maior reserva
e expediente eram necessaries depois da sua transformação em natureza divina.
Tal reserve sempre tem sido mantida por Jeová para as suas criaturas, e é
expediente diante das condições. Esta reserva marcava todas as conversações
do nosso Senhor com os seus discípulos depois da sua ressurreição. Eram
muito breves, ainda como ele tinha dito: “Já não falarei muito convosco”. —
João 14:30.
Esses que crêem
que o nosso Pai celestial é um espírito e não um homem, não devem de achar
nenhuma dificuldade em compreender que o nosso Senhor Jesus, que já está
agora enaltecido à natureza divina, e que é não somente uma semelhança moral
de Deus, mas também de fato
“a expressa imagem
do seu Ser”, do Pai,
já não é mais um
homem, mas um ser espiritual, a quem nenhum dos homens tem visto nem pode
ver sem um milagre. É realmente tão impossível os homens verem a glória
desvelada do Senhor Jesus, isto é como eles olhassem para Jeová. Pensai por
um momento como ainda uma reflexão da glória espiritual afetou a Moisés e
Israel no Sinai. (Heb. 12:21; Êx. 19;20:19-21; 33:20-23; 34:29-35) “E tão
terrível era a visão”, tão opressiva e temível, “que Moisés disse: Estou
todo aterrorizado e trêmulo”. E ainda que Moisés esteve fortalecido de modo
sobrenatural para olhar à glória do Senhor, assim que durante quarenta dias
e quarenta noites, sozinho
[132]
com Deus, abrigado
pela sua glória e sem comida, sem bebida, recebeu e escreveu a lei divina (Êx.
34:28); entretanto, quando desejou ver o Senhor face a face, foi lhe dito:
“Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum pode ver a minha face
e viver.” (Êx. 33:20) Tudo o que Moisés já viu, portanto, foi uma
aparição
representando
a Deus, e nada mais foi possível. Isto está de acordo, também, com as
declarações do Apóstolo:
“Ninguém jamais
viu a
Deus.” Ele é o Rei imortal, invisível,
a quem nenhum dos
homens tem visto nem pode ver [jamais].
(I Tim. 6:15, 16)
No entanto que os seres espirituais podem ver e vêem a Deus, que ele mesmo é
um ser espiritual, está claramente declarado. — Mat. 18:10.
Se o nosso Senhor
é ainda “Cristo Jesus,
homem,
o qual
se deu a si mesmo
em
resgate por todos” (I Tim. 2:5, 6) — embora sendo morto na carne e fosse
ressuscitado à mesma carne, e não, como o Apóstolo declara, um espírito
vivificante — então em vez de ser exaltado muito acima dos anjos e de todo
nome que se nomeia tanto no céu como na terra, seria ainda um homem. E se
mantivesse a forma de servo, que tomou por causa da paixão da morte por
todos, e fosse ainda um pouco menor do que os anjos, nunca poderia ver a
Deus. Mas quão irracional é tal opinião quando plenamente examinada à luz do
testemunho apostólico. Tomai em consideração, também, que se a carne do
nosso Senhor, que foi furada e ferida com cravos e lança e coroa de espinhos,
e marcada com tristeza, seja o seu glorioso corpo espiritual; e se as
cicatrizes e desfiguradas feições humanas fossem partes ou parcelas do
Senhor exaltado, estariam muito longe do caráter ou natureza do que é de
belo, ainda que amássemos as feridas suportadas por causa de nós. E se ele
ainda possuísse um corpo imperfeito cicatrizado e desfigurado, e se seremos
semelhantes a ele,
não significaria
que os Apóstolos e santos que foram crucificados, decapitados, apedrejados
mortalmente, queimados, cortados em pedaços dilacerados por feras, assim
como aqueles que foram acidentados, possuíssem cada um do mesmo modo os seus
defeitos e cicatrizes?
[133]
E nessa
perspectiva não se apresentaria o céu um espetáculo muito horrível — por
toda a eternidade? No entanto, isto não é o caso, e ninguém poderia defender
por longo tempo tão desarrazoada opinião em desacordo com a Escritura. Seres
espirituais são perfeitos em todo particular; e assim o Apóstolo faz lembrar
à Igreja, que são herdeiros da glória e honra celestial ou espiritual:
Semeia-se em ignomínia [com rugas causadas por preocupações e tristezas,
etc.], é ressuscitado em glória. Semeia-se [na morte] em fraqueza
[cicatrizes e feridas, etc.], [o ser] é ressuscitado em poder. Semeia-se
corpo animal, é ressuscitado corpo espiritual. E assim como trouxemos a
imagem do [pai] terreno, traremos a imagem do [Senhor] celestial. (I Cor.
15:42-51) O nosso Senhor Jesus por amor de nós tomou e trouxe também a
imagem do terreno, por algum tempo, para nos redimir. Porém na sua
ressurreição tornou a viver, para ser Senhor [celestial] (Rom.14:9), e nós,
se fiéis, logo traremos a imagem do Senhor celestial (corpos espirituais),
como agora todavia trazemos a imagem do senhor terreno, Adão (corpos humanos).
Lembrai o caso de
Paulo — Afim de que pudesse ser um dos Apóstolos, teve que tornar-se uma
testemunha
— devia ver o
Senhor depois da sua ressurreição. Não foi um daqueles que viram as
manifestações da ressurreição e presença durante os quarenta dias, por isso
foi dada a ele uma especial aparição instantânea do Senhor. Mas o viu, não
como os outros o viram — não velado na carne com roupa de várias formas. E o
magnífico esplendor da gloriosa pessoa desvelada do nosso Senhor causou-lhe
a cair por terra, cegado por uma glória que muito “excedia o esplendor do
sol” ao meio-dia: desde que ficou cego, para restaurar-lhe a visão ainda que
parcialmente requeria um milagre. (At. 9:17, 18) E Paulo não viu o Senhor
como é
— um
ser espiritual? E não foi que o nosso Senhor durante os quarenta dias
aparecia
como
era,
isto é, como tinha
sido previamente, para os propósitos especiais e razões já indicados? Aqui
não dá lugar a dúvida sobre isto. Mas o Senhor tinha um objetivo de aparecer
assim a Paulo, exatamente como ele
[134]
tinha feito, e
serviu um outro objetivo por aparecer de maneira distinta aos outros. Paulo
demonstra este objetivo, dizendo: “e por derradeiro de todos
apareceu
também a mim,
como a um
abortivo”.
(I Cor. 15:8) Tal
como a ressurreição do nosso Senhor foi o seu
nascimento
dentre os
mortos, para plena perfeição de ser espiritual (Col. 1:18; Rom. 8:29), assim
a ressurreição da Igreja, o corpo de Cristo, aqui e em outras partes refere-se
assim como a um nascimento. No nosso nascimento ou ressurreição como seres
espirituais, veremos ao Senhor
assim como é,
exatamente como Paulo o viu; mas nós, sendo
transformados
ou
nascidos então, como seres espirituais, não seremos acometidos para baixo
nem cegados pela vista da gloriosa pessoa do nosso Senhor. A declaração de
Paulo significa que viu o Senhor
como
o veremos —
“assim como é”:
Paulo o
viu assim
como
todo o corpo de Cristo (a Igreja) o verá, mas viu o Senhor
antes do tempo
próprio,
ainda antes de
nascer dentre os mortos, e portanto antes de estar apto para suportá-lo esta
aparição, mas
“assim como”
cada um
nascido desta maneira (na primeira ressurreição) no tempo próprio o verá.
Moisés, descendo
do monte para comunicar a Israel o Pacto da Lei, foi um tipo do mais grande
Legislador e Mediador do Novo Pacto, que no seu segundo advento vem para
governar e abençoar o mundo. Portanto, Moisés tipificou a Igreja inteira, da
qual o Senhor é a Cabeça. O rosto de Moisés resplandecia, assim que o povo
não pôde olhar para ele, e ele pôs um véu, como tipo da glória spiritual de
Cristo, uma ilustração do assunto que agora estamos examinando. Cristo tem a
verdadeira glória e resplendor, sendo a expressa imagem do Ser do Pai,
seremos semelhantes a ele, e nenhum homem pode olhar para essa glória; Por
isso qualquer manifestação do Legislador nesse particular será para o mundo
quando a glória do Senhor há de ser revelada, a glória dos seres espirituais
não se pode ver. Falarão através do véu — sob a cobertura. Isto, tanto como
mais, foi significado pelo véu de Moisés. — Êx. 34:30-33.
[135]
Ao passo que damos
à matéria estudo cuidadoso, cada vez mais e mais chegamos a reconhecer a
sabedoria divina mostrada na maneira de revelar a ressurreição do nosso
Senhor aos Apóstolos, para que pudessem ser de uma parte a outra testemunhas
convencidas e de confiança, e para que os mansos e humildes do mundo
pudessem ser capazes de aceitar o seu testemunho e crer que Deus levantou o
nosso Senhor dentre os mortos — para que pudessem reconhecer aquele que foi
morto, mas agora está vivo pelos séculos dos séculos, e, crendo pudessem vir
a Deus por meio dele. E assim como o consideramos sob a direção do Espírito
Santo da verdade, as nossas mentes expandem-se e já não vemos a Cristo Jesus
como homem, senão como o Senhor da glória e do poder, participante da
natureza divina. Assim conhecemos a ele, para cuja vinda e reino a Igreja
tão sinceramente tem orado e anelado. E ninguém propriamente reconhecendo o
seu grande enaltecimento pode esperar na sua Segunda vinda o Cristo Jesus,
homem, no corpo da carne preparado para sacrifício e ferido e
dado
à morte como o
nosso resgate. Nem deveríamos esperar que na sua segunda vinda apareceria ou
manifestar-se-ia
em várias formas
de carne e ossos ao mundo — o que era necessário para primitivas
testemunhas,
mas agora já
não é necessário. Como veremos, manifestará a sua segunda presença de
maneira muito distinta.
Do que temos visto
com respeito a seres espirituais e suas manifestações em tempos passados, é
evidente que se o nosso Senhor se manifestar no seu segundo advento, ou por
abrir os olhos dos homens para verem a sua glória, assim como fez com Paulo
e Daniel, ou por assumir um corpo humano, seria prejudicial ao plano
revelado na sua Palavra. O efeito de aparecimento ao mundo, seus olhos sendo
preparados milagrosamente para habilitálos a vê-lo, seria quase que
paralisá-los com a visão irresistível, enquanto a aparição
como um homem
seria
rebaixar os padrões de dignidade e dar uma avaliação mais baixa do que a
verdadeira da
[136]
sua natureza
divina e forma. Visto que nenhum pareceria ser necessário ou recomendável
agora, não devemos presumir que qualquer destes métodos será adotado.
Ao contrário,
deveríamos esperar que o Cristo fosse manifesto na carne da humanidade da
mesma maneira que quando o Senhor
“se fez carne”
e
habitou entre os homens, Deus foi manifestado na carne dele. A natureza
humana, quando perfeita e em harmonia com Deus, é uma
semelhança de Deus
na
carne; daqui o originalmente perfeito Adão foi uma semelhança de Deus, e o
perfeito Cristo Jesus, homem, também o foi; assim que pôde dizer ao
discípulo Filipe, qual pediu
ver
o Pai, “Quem me
viu a mim, viu o Pai” — este tem visto a semelhança de Deus na carne:
“Aquele que se manifestou em carne”.
Da mesma maneira,
também, a humanidade em geral, assim como os seus membros voltam
gradualmente à imagem de Deus, perdida há muito tempo, serão na carne
imagens e semelhanças do Pai e do Cristo. Exatamente no começo do Milênio,
como temos visto, haverão exemplos de humanidade perfeita perante o mundo
(Volume I, Estudo XIV). Abraão, Isaque e Jacó, e os santos profetas, já
provados e aprovados, serão os “príncipes” entre os homens, os expoentes e
representantes do invisível reino espiritual. Nestes será Cristo manifestado
— na
carne deles
— ainda assim como
o Pai foi manifestado na carne dele. E ao passo que “quem quiser” chegar à
perfeição e entrar em plena harmonia com a vontade de Cristo, cada tal será
uma imagem de Deus e de Cristo, e em cada um destes Cristo será manifestado.
Por causa de ser
criado à imagem moral de Deus, o homem perfeito, plenamente consagrado, será
capaz de apreciar perpetuamente o Espírito Santo e a Palavra de Deus; e a
Igreja glorificada dirigi-lo-á. Sem dúvida, também, visões e diretas
revelações, e comunicações gerais entre o reino espiritual e os seus
expoentes e representantes terrestres, serão muito mais livres e gerais do
que comunicações similares já têm sido antes — mais
[137]
livres segundo a
ordem das comunicações do Éden, antes de que o pecado trouxe condenação e
separação do favor e comunhão de Deus.
Nada, então,
tampouco em razão ou nas Escrituras Sagradas, demanda que o nosso Senhor no
seu segundo advento aparecerá em vários corpos de carne e ossos. Esse tal
proceder não é essencial, evidencia-se pelo sucesso do reino de Satanás, que
opera através de seres humanos como agentes. Aqueles que participam do
espírito do mal e erro representam o grande príncipe invisível, e em maior
parte completamente. Ele é, assim manifestado na carne deles, ainda que é
pessoalmente um ser espiritual, invisível aos homens.
Os membros do
Cristo “transformados”, feitos participantes da natureza divina, serão seres
espirituais assim como na realidade o é Satanás, e igualmente invisíveis aos
homens. As suas operações serão de maneira parecida; ainda que diretamente
opostas em caráter e resultados; os seus agentes honrados, não constrangidos
e feitos escravos pela ignorância e fraqueza, assim como é a maior parte dos
servos de Satanás, mas feitos perfeitos, e “verdadeiramente livres”, agirão
inteligentemente e harmoniosamente a partir da escolha e do amor. E as suas
nomeações serão prêmios da justiça.
A presença do
nosso Senhor será manifestada ao
mundo
por exibições com
“poder e grande glória”, não, no entanto, somente à vista natural, senão aos
olhos do seu entendimento, enquanto abrirse-ão a uma apreciação das grandes
mudanças que o novo Governador efetuará. A sua presença e justa autoridade
reconhecerse-ão em ambos: os castigos e as bênçãos que fluirão para a
humanidade do reino dele.
Por muito tempo
tem sido geralmente crido que a desgraça e tribulação vêm como castigo pelas
más ações, sobre os maus. Parecendo isto ser uma lei natural e própria, o
povo em geral o tem aceitado, pensando que deveria de ser assim, ainda se
isto não é assim; todavia os fatos difíceis da experiência concordam com a
Bíblia, que no passado foram os piedosos que muitas vezes têm
[138]
padecido muitas
perseguições e aflições. (2 Tim. 3:12) Porém no “dia de angústia”, o período
de quarenta anos*
introduzindo o reino do Messias, esta ordem começará a inverter-se. Nesse
dia os poderes do mal serão derrotados; e a justiça, estabelecida por um
processo gradual, rapidamente aplicará uma retribuição correspondente aos
malfeitores, e bênçãos para os que tiverem feito o bem, — “tribulação e
angústia sobre a alma de todo homem que pratica o mal, ... glória, porém, e
honra e paz a todo aquele que pratica o bem” — nesse “dia da ira e da
revelação do justo juízo de Deus, que retribuirá a cada um segundo as suas
obras”. (Rom. 2:9, 10, 5, 6) E visto que agora existe tanto mal, a
retribuição será muito forte no começo, fazendo um “tempo de tribulação,
qual nunca houve, desde que existiu nação”. Assim na vingança, e tribulação,
e ira sobre as nações, revelará o Senhor ao mundo o fato da mudança das
dispensações, e a mudança de governadores; porque, quando os juízos do
Senhor “estão na terra, os moradores do mundo aprendem justiça”. (Is.
26:5-11) Aprenderão que sob a nova ordem de coisas os fazedores da justiça
hão de ser enaltecidos, e os malfeitores restringidos e punidos. Para claro
testemunho profético relativo a este reino e a sua operação a favor dos
humildes, os justos, ospobres, os necessitados e os oprimidos, e sua ruína
de monopólios e de todo sistema da injustiça e opressão, e a igualdade geral
dos afazeres, pode ler cuidadosamente os Salmos 72:1-19; 37:1-14.
———————
*Veja o Prefácio do
Autor
O nosso Rei assim
revelar-se-á gradualmente: alguns discernirão o novo Governador prontamente
antes do que os outros. Mas ultimamente “todo olho o verá [horao
—
discernirá]”. (Apoc. 1:7) “Eis que vem com as nuvens”, e enquanto as nuvens
de tribulação estão pesadas e escuras, quando os montes (reinos deste mundo)
estão tremendo e caindo, e a terra (sociedade organizada) está sendo abalada,
desintegrada, e derretida, alguns começarão a com-
[139]
preender o que
agora proclamamos como já perto — que o grande dia de Jeová tem vindo; que o
predito dia de indignação, e dia de tribulação e de angústia sobre as nações
está começando; e que o Ungido de Jeová está tomando o seu grande poder, e
começando o seu trabalho, de fazer o juízo a linha para medir, e a justiça o
prumo. (Is. 28:17) “Pois é necessário que ele reine até que haja
posto” abaixo
todas
as autoridades e leis na Terra contrárias a essas que controla no Céu.
Quando a
tribulação aumentar-se-á, os homens procurarão, mas em vão, a proteção nas
“cavernas” e nas grandes rochas e fortalezas da sociedade (Livre Maçonaria,
Uniões Comerciais, Corporações, Trustes, e todas as sociedades mundanas e
eclesiásticas), e nos montes (governos) da terra; dizendo: “Caí sobre*
nós, [cobri-nos,
protegei-nos] e escondei-nos da face daquele que está assentado sobre o
trono, e da ira do Cordeiro; porque é vindo o grande dia da ira deles”. Apoc.
6:15-17.
———————
*A
palavra grega
epi,
aqui usada, é
geralmente traduzida
sobre,
mas tem também o
significado de
sobre
e
ao redor,
e é assim
traduzida muitas vezes na versão comum. O pensamento é esse de proteção, não
de destruição. A opinião comum desta passagem, de que ensine que os homens
maus ganhassem a fé suficiente como para rezar que os montes literais
caíssem, é absurdo. O cumprimento verdadeiro já está começando: os grandes,
os ricos, e também os pobres, estão procurando os montes, rochas e cavernas
para abrigo do tenebroso temporal de tribulação que todos vêem estar em
formação.
A idolatria do
dinheiro na qual o mundo inteiro se tem enlouquecido, e a que há de ter tão
proeminente lugar na tribulação, causando a ansiedade não apenas para a sua
acumulação, senão também para a sua preservação, há de ser completamente
arruínada, assim como indica em Isaías 2:8-21, e Ezequiel 7:17-19.
O grande dia de
tribulação será reconhecido, e da sua tempestade todos buscarão a proteção,
ainda que poucos reconhecerão a justice do Senhor e os seus juízos então
amplamente no mundo como resultado da sua
presença,
o
estabelecimento da sua autoridade, e a
[140]
execução das suas
leis. No fim, entretanto, todos reconhecerão [“verão”] o Rei da Glória; e
todos aqueles que então amam a justice com regozijo o obedecerão e se
conformarão plenamente com suas exigências justas.
Esse será um tempo
de retribuição e todos que por fraude e por força, às vezes no nome da lei e
sob a sua sanção, têm injustamente tomado os direitos ou a propriedade de
outros. A retribuição, como temos visto, virá
do
Senhor,
por meio do
levantamento
do povo. Na sua angústia, relutantes em repartir um dólar ou um acre de
terra, ou um assumido direito ou dignidade por muito tempo desfrutado e por
muito tempo não disputado, mas vendo a retribuição aproximar-se, muitos
buscarão a cobertura das até agora poderosas organizações — civis, sociais,
e eclesiásticas — para promover e proteger os seus interesses, sentindo que
sozinhos serão obrigados a caírem. Porém, estas não poderão livrá-los no dia
da ira do Senhor. O aproximado conflito e retribuição causarão lamentação a
todas as famílias da Terra; pois será um tempo de tribulação qual nunca
houve, desde que existiu nação — nem jamais haverá de novo. Será
“sobre ele”
que se
lamentarão; por causa dos seus juízos produzindo numa maneira natural a
grande tribulação; porque o Senhor se levanta para assombrar a terra, e para
destruir as suas corrupções. (Is. 2:21) Os juízos e a tribulação serão tão
profundos e atingíveis que ninguém escapará. Ultimamente todo olho
discernirá a mudança, e reconhecerá que o Senhor reina. A tribulação poderia
ser muito reduzida, se os homens pudessem ver e prontamente fazer segundo os
princípios da eqüidade, ignorando e abandonando todos os privilégios
injustos do passado, ainda que legalizados. No entanto, o egoísmo não
permitirá a isto, até a tribulação arruinar e derrotar os orgulhosos,
humilhar os poderosos, e enaltecer os humildes.
Entretanto, não
antes que o grande dia de tribulação esteja quase terminando — não antes que
os reinos gentios sejam reduzidos a pó e completamente removidos, e não se
possa achar nenhum vestígio
[141]
deles (1915 d. C.;
como mostrado no capítulo anterior) — não antes que a grande Babilônia
esteja completamente derrotada e a sua influência sobre o mundo seja
quebrada — poderá a grande massa da humanidade dar-se conta do verdadeiro
estado de coisas. Então verão que a grande tribulação pela qual terão
passado, foi essa simbolicamente chamada “a batalha do grande dia do Deus
Todo-Poderoso” (Apoc. 16:14); que na proporção que tinham ajudado o erro e a
injustiça, tinham estado lutando contra a lei e as forças do novo domínio e
do novo Governador da Terra; e que na proporção que as suas línguas, e penas,
e mãos, e influência, e recursos, foram usados para apoiar a
justiça
e a verdade em
qualquer circunstância, eles tinham estado de tal maneira lutando no partido
do Senhor.
Alguns aprenderão
o significado da tribulação mais rapidamente do que os outros, porque
tornaram-se mais disciplináveis. E durante toda a tribulação estarão no
mundo aqueles que darão testemunho da causa dela, declarando a presença do
Senhor e o estabelecimento do seu reino — que está em oposição aos poderes
da escuridão — a verdadeira causa da tribulação e agitação e transtorno da
sociedade, mostrando que todos aqueles que se opõem à verdade e justiça são
os inimigos do novo reino, a não ser que rapidamente rendam-se, terão que
sofrer derrota ignominiosa. No entanto as massas estarão descuidadas de
conselho sábio, como sempre têm estado, até que serão completamente
humilhadas sob o regime de ferro do novo reino, apenas finalmente entenderão
a loucura do seu proceder.
O professor
verdadeiro e portador de luz (Mat. 5:14), a Igreja verdadeira, o corpo de
Cristo, não há de ser deixado na escuridão para aprender da presença do seu
Senhor pelas manifestações da ira e do poder dele, tal como o mundo
aprenderá dela. Para a sua iluminação tem sido feita provisão especial. Pela
mais firme palavra profética que alumia em lugar escuro, a Igreja é
claramente e definitivamente informada exatamente sobre o que deve
[142 ]
esperar. (2
Ped. 1:19) Por meio da palavra profética, esta não apenas estará protegida
do desânimo e habilitada para vencer as ciladas, armadilhas e pedras de
tropeço tão prevalecentes no “dia mau”, e assim estar aprovada por Deus, mas
também se tornará portadora de luz e instrutora do mundo. A Igreja está
assim habilitada para indicar ao mundo a causa da tribulação, anunciar a
presença do novo Regente, declarar o novo programa de ação, plano e objetivo
da nova dispensação, e para instruir o mundo conforme o curso ciente que há
de seguir em vista destas coisas. E ainda que os homens não prestarão
atenção à instrução até que a lição da submissão haja sido forçada sobre
eles pela tribulação, muito ajudá-los-á aprender a lição. Será isto a missão
dos “pés”, ou dos últimos membros da Igreja, que anunciarão e proclamarão
sobre os montes (reinos)
o reino de Cristo
começado,
ao qual Isaías
52:7 faz alusão.
Escrituras que
Parecem ser Contraditórias
Algumas
declarações das Escrituras com referência à maneira da volta e aparecimento
do Senhor que, até examinadas criticamente, parecem ser mutuamente
contraditórias. Sem dúvida, durante séculos tinham servido ao propósito
divino de esconder a verdade até o devido tempo, em que deviam ser
entendidas; e ainda então, estariam escondidas de todos exceto a uma classe
especial de consagrados para os quais foram programadas.
Por exemplo, o
nosso Senhor disse: “Eis que venho
como ladrão.”
“Como
aconteceu
nos dias
de Noé, assim
também sera
nos dias
do Filho do
homem [nos dias da sua
presença].
Comiam, bebiam,
casavam e davam-se em casamento”, “e
não o perceberam,
até que
veio o dilúvio”. “Sendo Jesus interrogado pelos fariseus sobre quando viria
o reino de Deus, respondeu-lhes: O reino de Deus
não vem com
aparência exterior”
[“com visível
[143]
aparência” — SBB; “visivelmente” — HG]. Apoc. 16:15; Luc. 17:26, 27, 20;
Mat. 24:38, 39.
Estas Escrituras
claramente declaram e ilustram a maneira da vinda do Senhor. Mostram que
estará presente e invisível, fazendo uma obra da qual o mundo durante certo
tempo ficará inteiramente desapercebido. Portanto a sua chegada deve ser
numa maneira calma, não observada, e totalmente não reconhecida pelo mundo;
exatamente “como ladrão” viria, sem ruído ou outra demonstração para atrair
atenção. Assim como nos dias de Noé o mundo continuou com os seus afazeres
como de praxe, de maneira alguma desconcertado, e sem nenhuma fé na pregação
de Noé com referência ao dilúvio vindouro, assim na primitiva parte do dia
do Senhor, o mundo — não tendo nenhuma fé no anúncio da sua presença nem da
tribulação que está por acontecer — procederá como de praxe, não prestando
nenhuma atenção a tal pregação até que, no grande dilúvio de tribulação, o
velho mundo — a velha ordem de coisas — cai, passa, em preparação para o
pleno estabelecimento da nova ordem, o Reino de Deus debaixo de todos os
céus — “Como aconteceu nos dias de Noé, assim também sera nos dias [da
presença]
do Filho do homem.”
Por outro lado,
achamos Escrituras que à primeira vista parecem estar em conflito direto com
estas; como, por exemplo: “Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande
brado,
à
voz
do
arcanjo, ao som da
trombeta
de Deus”. —
“... quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder em
chama de fogo, e tomar vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não
obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus”. — Os povos [do mundo] “verão
vir o
Filho do homem sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória”. — “Eis
que vem com as nuvens, e
todo olho o verá”.
— I
Tess. 4:16; 2 Tess. 1:7, 8; Mat. 24:30; Apoc. 1:7.
Como aos que
procuram obter a verdade, não nos bastará dizermos, em vista destas
passagens, que a
maioria
delas parecem
favorecer a qualquer perspectiva que inclinamos a preferir, e então
[144]
ignoramos as
outras. Até que tenhamos uma visão da matéria na qual toda declaração da
Bíblia encontre uma representação razoável, não devemos nos sentirmos certos
de que tenhamos a verdade no tema. Uma declaração de Deus é tão verdadeira,
e tão firme fundação para a fé, como cem declarações. Seria melhor procurar
um entendimento harmonioso, do que chegar a uma conclusão ou adotar uma
teoria baseada numa interpretação unilateral, e assim enganar a nós mesmos e
a outros.
Os cristãos
geralmente não fazem nenhum esforço para harmonizar estas declarações, e
portanto as suas idéias são de um lado só e incorretas. O último grupo de
declarações é exatamente tão positivo como o primeiro, e aparentemente
ensina ao contrário de uma maneira quieta, inobservada, como ladrão na vinda
e presença do Senhor. Em adição a estas declarações, nós nos dirigimos a
duas outras ilustrações da maneira da sua vinda, a saber: “Esse Jesus, que
dentre vós foi elevado para o céu,
há de vir assim
como
para o céu o vistes ir.” “Porque assim como o relâmpago sai do oriente e se
mostra até o ocidente, assim sera também a vinda do Filho do homem.” (At.
1:11; Mat. 24:27) Para chegar a uma conclusão correta, a estas ilustrações
também é preciso dar a devida importância.
Na nossa pesquisa
do tema devemos notar o que enquanto o nosso Senhor declarou, como fato
positivo, que o seu reino estabelecer-se-ia sem aparência exterior, e que a
sua vinda, a sua presença, seria
como
um ladrão,
exigindo cuidadosa e atenta vigília para compreender e discerni-la; todos os
textos acima geralmente citados como prova duma aparência exterior, uma
visível manifestação aparente, estão em
linguagem altamente
figurativa,
salvo o único que
diz que há de vir assim como (da maneira em que) se foi. Os simbolismos
devem sempre ser submetidos à interpretação mais clara, e literal da
declaração, tão logo como o seu caráter do símbolo seja reconhecido. Sempre
que uma interpretação literal contrariaria a razão, e também poria a
passagem em
[145]
antagonismo direto
a
declarações claras
das Escrituras,
tal passagem deve ser considerada figurativa, e a sua interpretação como um
símbolo deve-se procurar obter em harmonia com passagens obviamente claras e
literais, e com o objetivo e caráter geral do plano revelado. Por reconhecer
e assim interpretar os símbolos neste caso, manifesta-se a formosa harmonia
de todas as declarações. Agora as examinemos e vejamos quão perfeitamente
concordam com as declarações que não são simbólicas.
“Porque o Senhor
mesmo descerá do céu com grande
brado,
à
voz do arcanjo,
ao som
da
trombeta de Deus”.
(I Tess. 4:16) A
voz e a trombeta aqui mencionadas correspondem em todo modo com as mesmas
figuras usadas no Apoc. 11:15-19 — “E
tocou
o sétimo anjo a
sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: O reino do mundo
passou a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos
dos séculos. ... Iraram-se, na verdade, as nações; então veio a tua ira, e o
tempo de serem julgados os mortos”, etc. Os mesmos eventos são aludidos na
profecia de Daniel: — “Naquele tempo se levantará [assumirá o controle]
Miguel [Cristo], o grande príncipe, ... e haverá um tempo de tribulação,
qual nunca houve, desde que existiu nação ... E muitos dos que dormem no pó
da terra ressuscitarão”, ... e Paulo inclui à sua menção das vozes e da
trombeta a declaração, “e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro”.
Em 2 Tim. 4:1 mais além relata que Cristo Jesus, há de julgar os vivos e os
mortos, neste tempo da sua vinda e do seu reino; O começo deste julgamento
das nações vivas é descrito em toda parte como o mais grande tempo de
tribulação qual o mundo nunca conheceu. — Dan. 12:1.
Assim Paulo, João
e Daniel aparentemente fazem alusão ao mesmo tempo, o tempo do aparecimento
do nosso Senhor, e o estabelecimento do seu reino no meio de um grande tempo
de tribulação, e aos eventos precedentes e introdutório dele. O mesmo
[146]
resultado está
mostrado por cada escritor para seguir o levantamento de Miguel, as vozes e
a trombeta: a saber, tribulação e ira sobre as nações e a ressurreição dos
mortos. Em seguida, note a figura usada:
“COM GRANDE BRADO”.
— A palavra grega aqui traduzida” brado” é
keleusma,
que significa
um brado
de encorajamento.
Um brado implica
uma mensagem pública designada para os ouvidos, não duns poucos, senão de
uma multidão confusa. Está geralmente destinada uma a outra para alarmar e
apavorar ou para assistir e encorajar. Ou pode ter um efeito sobre uma
classe e o efeito reverso sobre outra, de acordo com as circunstâncias e
condições.
O aspecto dos
afazeres no mundo durante os passados quinze anos muito surpreendentemente
corresponde com este símbolo, em irrupções de encorajamento pelo mundo
inteiro para todos os homens despertaram-se a um sentido dos seus direitos e
privilégios como homens, e considerarem suas mútuas afinidades, os
princípios nas quais são fundadas, e os fins que devem realizar. Onde sobre
a face da Terra está a nação civilizada que não tenha ouvido o brado, e que
não seja influenciada pelo mesmo! Nos últimos poucos anos o mundo inteiro
civilizado tem estado estudando a economia política, os direitos civis, e as
liberdades sociais como nunca antes nos anais da história; e os homens estão
animando-se mutuamente e sendo encorajados, como nunca antes, para sondar
estes objetivos para a verdadeira fundação. O brado de encorajamento
começado pelos progressos da ciência entre os homens já tem rodeado a Terra,
e sob a sua influência os homens estão unindo-se, encorajados e apoiados por
homens de intelecto e gênio, para conter e lutar por ambos: os verdadeiros e
imaginários direitos e liberdades; e enquanto as suas organizações aumentam-se
e multiplicam-se, o brado aumenta e está tornando-se cada vez mais ameaçador
e extenso, e por fim resultará como predito, em um grande tempo de
tribulação e tumulto das nações iradas. Este resul
[147]
tado está
graficamente descrito pelo Profeta. — “Eis um tumult sobre os montes [reinos],
como o de grande multidão! Eis um tumulto de reinos, de nações congregadas!
O Senhor dos exércitos passa em revista o exército para a guerra.” — Is.
13:4.
“À VOZ DO ARCANJO”
— é outro símbolo notável de similar importância. O nome “arcanjo” significa
mensageiro principal;
e o nosso ungido
Senhor ele mesmo é o Principal Mensageiro de Jeová — o “anjo do pacto”.
(Mal. 3:1) Daniel refere-se ao mesmo personagem, chamando-o Miguel, cujo
nome significa
aquele como Deus
— um
nome apropriado para ele que é “a expressa imagem do seu Ser”, do Pai, e o
representante do seu poder e autoridade. A voz do Arcanjo representa a
autoridade e o commando de Cristo. Então este símbolo representa a Cristo
como tomando o controle, ou começando o seu reino e emitindo os seus
comandos, as suas ordens oficiais, anunciando a mudança de dispensação pela
execução das leis do seu reino.
O mesmo pensamento
é expressado diferentemente por Daniel, quando diz: Naquele tempo Miguel, o
grande Príncipe,
“se levantará”.
Levantar-se significa assumir a autoridade, dar ordens. Veja “quando ele
se
levantar”,
Is. 2:19, 21.
Outra ilustração deste símbolo vem de Davi, que diz profeticamente de Cristo,
“ele levanta a sua voz, e a terra se derrete”. O grande tempo de tribulação
será precipitado, e a terra (sociedade organizada) derreter-se-á, ou
desintegrar-se-á, sob a mudança de administração realizando-se quando o novo
Rei levanta a sua voz de comando. Debaixo de sua ordem, os sistemas de erro
— civis, sociais e religiosos — têm que cair, seja como for, antigos ou
firmemente instituídos e fortificados. A espada da sua boca causará a
destruição: A verdade em todo tema, e em todos os seus vários aspectos,
julgará os homens, e, sob o seu poder e domínio causará o transtorno do mau
e erro em todas as suas mil formas.
“A TROMBETA DE
DEUS”. — Muitos parecem irrefletidamente admitir a idéia de que esta
trombeta haja de ser um som literal no
[148]
ar. No entanto,
isto parece ser uma expectação irracional, quando se nota que Paulo aqui
refere-se ao que o Revelador designa por “Sétima Trombeta”, a Última
Trombeta numa
série
de trombetas
simbólicas. (Apoc. 11:15; I Cor. 15:52) A prova de que estas referências são
para a mesma trombeta encontra-se no registro dos eventos ligados com cada
uma. Paulo menciona a ressurreição, e o estabelecimento do Reino do Senhor,
como relacionamento com a “trombeta de Deus”, e o Revelador menciona a mesma
ainda com mais exatidão. A adequação da chamada “sétima”, ou “última
trombeta”, a “trombeta de Deus”, é evidente, também, quando recordamos que
os eventos mencionados sob as precedentes seis trombetas do Apocalipse
referem-se às ações da humanidade, enquanto a sétima refere-se especialmente
à obra de Deus, e abrange o “dia do Senhor”. Desde que as seis trombetas
precedentes foram símbolos — e isto é geralmente admitido por comentadores e
estudantes que fazem qualquer pretensão de serem expositores do Apocalipse —
seria uma violação da razão e do bom senso esperar a sétima trombeta, a
última da série, ser um audível som literal no ar. E não somente assim, mas
também seria fora da harmonia com os métodos gerais do Senhor, assim como
com essas declarações das Escrituras indicando o
segredo
da sua vinda; pois
um ladrão nunca faz soar uma trombeta para anunciar a sua vinda.
As sete trombetas
do Apocalipse são todas simbólicas, e representam sete grandes períodos de
tempos e os seus eventos. A pesquisa destes deixamos para um volume
subseqüente. É suficiente aqui dizer que nós nos encontramos hoje no meio
dos eventos que marcam o soar da sétima trombeta. As grandes vozes, os
progressos da ciência, as nações iradas, etc., tomados em conexão com as
profecias do tempo, estabelecem isto como um fato. Muitos eventos ainda
estão para realizarem-se antes de que esta sétima ou última trombeta cesse
de soar; como, por exemplo, dar recompensa aos santos e profetas, e a
ressurreição de todos os
[149]
mortos, etc. De
fato, abrange o período inteiro do reino Milenário de Cristo, como indicado
pelos eventos que hão de cumprir-se sob o mesmo. — Apoc. 10:7; 11:15, 18.
Assim achamos o
“brado”,
a
“voz do
Arcanjo”
e,
“a trombeta de
Deus”
todos são simbólicos, e agora estão em processo de cumprimento. Note
cuidadosamente, também, o fato de que cada uma das três profecias agora
mesmo referidas. (Dan. 12:1; Apoc. 11:15; I Tess. 4:16) declara a
presença
do Senhor no
tempo em que os eventos mencionados realizam-se. Foram preditos para o exato
propósito de indicar a maneira em que a sua
presence invisível
seria
manifestada para aqueles que têm fé na palavra da profecia. Paulo diz: “o
Senhor mesmo
descerá ...
com [literalmente
em,
ou
durante]
grande brado”, voz, trombeta, etc. João diz que os reinos do mundo passam a
ser dele durante o tempo destes eventos; e Daniel diz: “Naquele tempo se
levantará [estará
presente]
Miguel, o
grande Príncipe” [Cristo] e assumirá o seu grande poder. Se, portanto,
podemos reconhecer o brado, as vozes e o soar da grande trombeta, devemos
aceitá-los como indicações, não de que o nosso Senhor virá brevemente, mas
antes, que já veio e agora está presente, e que o trabalho da ceifa, a
colheita do trigo e a queima do joio, já está em marcha. Isto, logo veremos,
comprovar-se abundantemente pelas profecias de tempo. No entanto, não é para
a visão natural, mas apenas para o olho da fé, por meio da firme palavra
profética, que a sua presença e obra podem ser discernidas.
Aqui não deve
negligenciar-se outro fato, a saber, que o “Brado”, a “Voz do Arcanjo”, e a
“Trombeta de Deus”, como acima explicado, são todos instrumentos para o
cumprimento da obra da ceifa da Idade Evangélica. Portanto, vendo não
somente o significado destes símbolos, mas também os preditos
resultados
atualmente
realizando-se, temos provas adicionais tanto que temos corretamente
interpretado os símbolos, e que agora estamos neste período chamado a “ceifa”,
em que a Idade Evangélica e a Idade
[150]
Milenária
sobrepõem-se — uma terminando-se e a outra começando. Muitos não precisarão
de nenhuma ajuda em traçar um
trabalho de
separação
agora realizando-se
entre os verdadeiramente consagrados e os cristãos meramente nominais.
Muitos podem ver o fogo simbólico já em marcha, e podem discernir o “brado”
do povo, o comando do novo Rei Emanuel e os eventos chamados a “sétima
trombeta” e as “nuvens” de tribulação, nas quais o Senhor vem, e das quais e
pelas quais o seu poder há de manifestar-se — sujeitando a si todas as
coisas.
Já temos chamado
atenção (Vol. I, p. 273; ou p. 237, 2.ª edição) ao fato de que o
reconhecimento do trabalho da ceifa atualmente em progresso é prova da
presença do Senhor, desde que declarou que ele seria o líder ceifeiro e
diretor da obra inteira, e que este seria o seu primeiro trabalho — “eis uma
nuvem branca, e assentado sobre a nuvem um semelhante a filho de homem, que
tinha sobre a cabeça uma coroa de ouro, e na mão uma foice afiada. ... Então
aquele que estava assentado sobre a nuvem meteu a foice à terra, e a terra
foi ceifada”. —
“Por ocasião
da ceifa,
direi aos ceifeiros: Ajuntai”, etc. (Apoc. 14:14, 16; Mat. 13:30) O trabalho
da ceifa ocupará quarenta anos para seu pleno cumprimento, terminando em
1914 d. C.*
Os seus
vários lineamentos cumprir-seão gradualmente, mas todos os seus dias são
“dias do Filho do homem” — dias da presença e do poder do nosso Senhor — os
quais finalmente serão reconhecidos, mas no princípio unicamente pela classe
especificada pelo Apóstolo — “vós, irmãos, não estais em trevas”.
———————
*Nota
dos tradutores: Veja o Prefácio do Autor, páginas IV, V.
“EM CHAMA DE FOGO.”
— O seguinte destas declarações simbólicas pode ser entendido facilmente, se
temos em mente o significado dos símbolos, fogo, etc., já explicados (Vol.
I, p. 365; ou p. 317, 2.ª edição). O texto diz: “quando do céu se manifestar
o Senhor Jesus com os anjos de seu poder em chama de fogo, e tomar
[151]
vingança dos
que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor
Jesus”. — 2 Tess. 1:7, 8.
Expressando
literalmente, entendemos que isto significa que no seu dia (a Idade
Milenária) a presença do nosso Senhor revelar-seá ou manifestar-se-á ao
mundo desde a sua posição de controle espiritual (“céu”), na ira e punição
fazendo visitas sobre o mal e os malfeitores. Será ira abrasadora, como
indicada pelos símbolos,
fogo,
e não lhes deixará
nem raiz nem ramo dos sistemas maus, erro, opressão, ou pecadores
voluntariosos; e todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão
como restolho abrasados nesse dia Milenário. No seu começo — neste período
de “ceifa” — este fogo queimará muito ferozmente, consumindo o orgulho e o
mal, agora de tão viçoso crescimento. Felizes aqueles que abandonam o seu
orgulho e maldade para serem destruídos, para que eles mesmos não sejam
destruídos também (na “segunda morte”), como evidentemente haverá alguns que
resistirão durante a Idade Milenária. É deste tempo que lemos: “Pois eis que
aquele dia vem ardendo como fornalha; todos os soberbos, e todos os que
cometem impiedade, serão como restolho; e o dia que está para vir os
abrasará, diz o Senhor dos exércitos, de sorte que não lhes deixará nem raiz
nem ramo.” — Mal. 4:1.
Os “anjos do seu
poder”, mensageiros, ou agentes do seu poder, são vários, e podem
propriamente entender-se como aplicáveis e inclusivos a todas as várias
agências, animadas e inanimadas, que serão usadas pelo nosso Senhor na
derrota dos sistemas maus do presente, e no castigo dos malfeitores.
Enquanto a ira ou
vingança do Senhor há de manifestar-se assim em chama de fogo, em tribulação
consumidora, tal como nunca antes foi conhecida — tão geral e muito
difundida, e tão destruidora da maldade — a justiça e os justos começarão a
ser favorecidos. E ao passo que estes procedimentos tornarem-se cada vez
mais evidentes, os homens começarão de atrair a inferência que um novo poder
tenha tomado o controle dos afazeres humanos; e
[152]
assim a
presença
do nosso
Senhor como o Rei dos reis sera revelada ao mundo. Ele manifestar-se-á “em
chama de fogo, e tomará vingança [tanto] sobre os que não conhecem a Deus [que
não estão realmente familiarizados com Deus, mas deixaram de obedecer a luz
de consciência, que todos até certo grau], como [também sobre aqueles que,
enquanto conhecem a Deus, todavia] não obedecem ao evangelho de nosso Senhor
Jesus”.
Sob os castigos e
aumentada luz e oportunidades favoráveis do Dia Milenário, todos serão
trazidos a tão claro conhecimento da verdade e do caminho da justiça assim
como para serem sem a desculpa de ignorância, ou de incapacidade de obedecer
à verdade. E aqueles que persistentemente
continuarem
inimigos de
Deus e da justiça sofrerão, como castigo a
perdição eterna
(uma
destruição da qual não haverá ressurreição) banidos da face [presença] do
Senhor e da glória do seu poder.
“COM PODER E
GRANDE GLÓRIA”. A contígua afirmação é com o sentido que o mundo verá o
Filho do homem
vir,
antes que o seu
reino seja plenamente estabelecido ou os seus co-herdeiros sejam todos
recolhidos e enaltecidos com ele. E, vendo a sua vinda, todas as tribos da
terra se lamentarão — “verão vir o Filho do homem ... com poder e grande
glória.
O mundo já vê as
nuvens da tribulação formando-se e escurecendo. Compreendem que um poder já
está penetrando nos afazeres dos homens, com o qual não podem competir; o
próximo futuro, desde a perspectiva presente, está sombrio e ominoso para
todos que têm a inteligência suficiente para notar o curso dos
acontecimentos. Homens pensativos observam a persistência com que questões
do bem e mal, da justiça e injustiça, estão
forçadas
na sua
consideração,
exigindo
uma expressão
dos seus princípios individuais. Muitos reconhecem a
glória e poder
do novo
Soberano da Terra, no entanto desde que as nuvens e a escuridão estão ao
redor dele, não reconhecem a ele mesmo o Rei. Os povos vêem
as nuvens,
e portanto
vêem ele vindo nas nuvens com poder
[153]
e grande glória [a
glória de poder e justiça], porém não reconhecem a
ele.
Não até que as
nuvens deixem cair saraiva e brasas de fogo (Sal. 18:12, 13) para abater o
orgulho dos povos, o egoísmo, os preconceitos, e consumir estes,
desaparecerão as nuvens, e virá à luz a plena majestade e glória da presença
de Cristo. Se os homens considerariam, e escutariam à voz do Senhor, que
agora dirige o curso da justiça, e adverte da retribuição que está por
acontecer, evitar-se-iam os grandes desastres do próximo futuro. Pois “Deus
fala de um modo, ainda de outro se o homem não lhe atende. ... então abre os
ouvidos dos homens [aos tons do trovão do “dia de tribulação”], e os
atemoriza com avisos, para apertar o homem do seu [próprio] desígnio, e
esconder do homem a soberba”.
“Eis que vem com
as nuvens”, e no devido tempo “todo olho o verá [discernirá], reconhecerá a
sua presença, o seu poder e autoridade; E todos terão de submeter-se a ele,
quer dispostos, ou com relutância, até a soltura de Satanás por um pouco de
tempo, no fim do Milênio, quando depois da experiência plena será provada
plenamente a sua boa vontade ou má vontade, os relutantes serão destruídos —
na segunda morte, simbolicamente chamada o lago de fogo. — Apoc. 21:8.
Assim vistas,
todas estas explicações simbólicas da maneira da vinda do nosso Senhor
concordam perfeitamente com as afirmações claras que declaram que a sua
presença será secreta por algum tempo, conhecida apenas por esses que estão
vigiando.
Assim Como
O que, agora, está
ensinado pela declaração do anjo no tempo da partida do nosso Senhor — At.
1:11 — “Esse Jesus, que dentre vós foi elevado para o céu, há de vir assim
como para o céu o vistes ir.”
Um exame cuidadoso
deste texto manifestará a sua harmonia com o precedente. Muitos parecem
opinar que a passagem diga: Como
[154] vistes
o Senhor
elevar-se para o céu, assim da mesma maneira
vereis
ele vir de novo.
Tais devem de lê-lo muitas vezes, até que notem o fato de que não diz que
aqueles que o viram ir hajam de vê-lo vir, nem que qualquer outro vá vê-lo
vir. O que diz é que a
maneira
da sua vinda será
assim
como a
maneira
da sua
partida. Qual, então, foi a maneira da sua partida? Foi com grande esplendor,
e com grande demonstração? Foi com som de trombeta e vozes e um grande brado
rasgando o ar, e a pessoa do Senhor brilhando em glória sobrenatural e
esplendor? Neste caso, deveríamos de esperar a sua volta realizar-se
“assim como” (da
mesma maneira).
Por outro lado, se
a partida não foi tão quietamente e secretamente como era possível,
consistente com o seu propósito de ter testemunhas inteiramente convencidas
do fato? Ninguém o viu nem soube do fato, exceto os seus fiéis seguidores. A
sua declaração (João 14:19) : “Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais”,
até agora nunca foi refutada. Pois ninguém, mas os irmãos viram ainda as
suas manifestações depois da sua ressurreição, e os outros não testemunharam
a sua ascensão. E assim como se foi (quietamente, secretamente, tanto quanto
toca ao mundo, não é conhecido a ninguém, exceto aos seus seguidores),
assim,
desta
maneira, vem de novo. E como quando ele partia, levantou as suas mãos e os
abençoou, assim, quando vem de novo, é para que o gozo deles seja completo,
como disse: “virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo”; “eu vos
tornarei a ver, e alegrarse- á o vosso coração, e a vossa alegria ninguém vo-la
tirará”. — Luc. 24:50, 51; João 14:3; 16:22.
O anjo pareceu
também dar ênfase especial ao fato que a segunda vinda seria a vinda deste
mesmo
Jesus —
o mesmo que deixou aquela glória que tinha junto ao Pai antes que o mundo
existisse, e se fez homem — se fez pobre, para que pela sua pobreza fôssemos
enriquecidos; o mesmo Jesus que morreu no Calvário; o mesmo Jesus que
levantou-se espírito vivificante no terceiro dia; o mesmo Jesus que tinha
manifestado a sua
transformação
durante
os qua
[155]
renta dias —
este
mesmo Jesus agora
subiu ao alto. Sim, é o
mesmo
Jesus quem tem
experimentado duas transformações de natureza — primeiro desde a espiritual
à humana, e então desde a humana à divina. Estas mudanças de natureza não
têm destruído a sua individualidade. A sua identidade foi preservada, como o
anjo assim nos assegura, se a filosofia desse fato está entendida ou não. E
ainda que não o conhecemos mais segundo a carne (como homem), no entanto
devemos lembrar o seu enaltecimento, que agora tem a natureza divina,
espiritual, e devemos antecipar a sua vinda em harmonia com esta
transformação e exaltação. Contudo podemos recordar que ele é
o mesmo amoroso
Jesus,
e não mudado neste respeito. É “esse Jesus”, quem, embora presente durante
quarenta dias depois da sua ressurreição, foi visto apenas pelos discípulos,
mas brevemente, quem na sua segunda presence será tão invisível ao mundo
como durante os quarenta dias antes da sua ascensão. Precisamos lembrar que
ele não vem para dar a si mesmo como um sacrifício, e ele não precisa mais
usar um corpo humano preparado para sacrifício. (Heb. 10:5) Isto já está
completamente passado: ele já não morre mais, mas agora vem para governar,
abençoar e levantar a raça remida.
O nosso Senhor
forneceu-nos uma ilustração belíssima da maneira em que a sua presença será
revelada, quando disse: “Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se
mostra até o ocidente, assim será também a vinda
[presença]
do Filho do
homem.” (Mat. 24:27) É evidente que a maioria das traduces deste versículo
são errôneas em usar a palavra relâmpago, onde significa luz solar; porque
os relâmpagos não vêm do oriente nem brilham até o ocidente. Tão
freqüentemente vêm desde outras partes, e raras vezes, se alguma vez,
lampejam através do céu inteiro. A ilustração dada pelo Senhor, e a única
que comportar-seá com as suas palavras, é a luz do sol, que de fato
invariavelmente sai do oriente e resplandece ainda até o ocidente. A palavra
grega
astrape,
aqui usada assim,
demonstra-se ser traduzida impropria [156]
mente
neste texto, e também no relato das mesmas palavras por Lucas (17:24). Outro
exemplo do uso desta palavra
astrape
pelo nosso Senhor
acha-se em Lucas 11:36, onde aplica-se ao brilho de uma candeia, e na versão
comum está traduzida “resplendor”. Incorretas idéias da maneira da vinda e
revelação do nosso Senhor, firmemente fixadas nas mentes dos tradutores, os
conduziram para este erro de traduzir a palavra
astrape
pela palavra “relâmpago”.
Eles supuseram que ele seria revelado repentinamente, como um relâmpago, e
não gradualmente, como a luz solar da aurora. Mas que bela é a figura do
levantar do sol, como ilustrando gradualmente a aurora da verdade e bênção
no dia da sua presença. O Senhor associa os vencedores com ele mesmo nesta
figura, dizendo: “Então os justos resplandecerão como o sol, no reino do seu
Pai.” E o profeta, usando a mesma figura, diz: “nascerá o sol da justiça,
trazendo curas nas suas asas”. A aurora é
gradual,
mas finalmente
a luz clara e plena banirá completamente a escuridão do mal, ignorância,
superstição, e pecado.
Uma tradução
imperfeita da palavra
parousia
tem tendido
mais além a obscurecer o sentido desta passagem. Na tradução em ingles
Emphatic Diaglott e também na do Professor Young está traduzida
presence (presença);
em
Rotherham é
arrival (chegada);
enquanto na versão comum está traduzida
coming (vinda).
E ainda
que o texto da Versão Revisada em inglês conserva esta última tradução —
coming (vinda)
— no
entanto na margem reconhece a
“presence” (presença)
ser a
definição verdadeira da palavra grega. A palavra grega
parousia
invariavelmente significa presence pessoal, como ter vindo, ter chegado. E
nunca deveria entender-se como significando estar no caminho, assim como em
português a palavra
vinda
é geralmente usada.
O texto sob consideração portanto ensina que enquanto a
luz solar
gradualmente
amanhece, assim há de manifestar-se ou revelar-se a
presença
do Filho do
homem.
Junto com esta
ilustração, o nosso Senhor uniu palavras de caute
[157]
la para prevenir-nos contra certos erros que seriam promovidos sobre o tempo
do seu segundo advento, calculados para desencaminhar a sua Igreja. “Eis que
de antemão vo-lo tenho dito. Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no
deserto, não saiais; ou: Eis que ele está no interior da casa; não
acrediteis. Porque assim como o resplendor [do sol] sai do oriente e [gradualmente]
se mostra até o ocidente, assim será também a
presença
do Filho do
homem.” Deste modo o nosso Senhor nos previne contra dois erros que crescem
rapidamente nos nossos dias. Um é a alegação de que o nosso Senhor viria na
carne, no deserto de Palestina; e, crendo assim, muitos têm ido para lá, e
estão esperando ver a Jesus na
carne,
com as feridas,
como quando foi crucificado. Esperando-o assim como
foi,
e não “assim como
é”, seriamente erram, e cegamse a si mesmos à verdade, como o fizeram os
judeus no primeiro advento. Estas expectativas falsas conduzem a esta classe
interpretar literalmente a declaração do profeta (Zac. 14:4): “Naquele dia
estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras”, etc.*
Cegados
por expectativas falsas, não vêem que os “pés” nesta passagem são
figurativos, tão verdadeiramente como no Sal. 91:12; Is. 52:7; Sal. 8:6;
110:1; Ef. 6:15; Deut. 33:3; e em muitas outras passagens. Se eles soubessem
o que
devem
esperar, saberiam não irem para Jerusalém buscar o Cristo Jesus,
homem;
pois o altamente
exaltado Rei vem como a luz do sol, fazendo sentir a sua presença e
influência por todo o mundo. Portanto, “não saiais”.
———————
*Deixamos
o exame desta profecia para outra ocasião.
“Portanto, se vos
disserem ... Eis que ele está no interior da casa; não acrediteis.” O
espiritismo, sempre pronto para enganar por contrafações, e sempre pronto
para usar verdades avançadas como roupa de luz (2 Cor. 11:13, 14), não tem
hesitado de alegar que estamos num período de mudança dispensacional, a
aurora duma idade gloriosa. Entre outras coisas tais, alguns ainda ensinam
que Cristo está
presente,
e, não
duvidamos que em breve darão
sessões [158]
nas
quais eles pretenderão mostrá-lo
no interior da
casa.
Por apresentar-se o erro desta forma, ou de qualquer outra, deixa-nos
lembrarmos as palavras do nosso Senhor e repudiarmos todas alegações
semelhantes como falsas, sabendo que não será desta maneira que
revelará
a sua presença,
mas “como a luz solar” emergindo gradualmente — “nascerá o sol da justiça,
trazendo curas nas suas asas”.
A Parousia do
Nosso Senhor na Ceifa
A linguagem grega
é muito exata: um fato que grandemente aumenta o seu valor em dar expressão
exata à verdade. Assim, por exemplo, na tradução IBB a palavra
vir
usa-se para
traduzir a trinta e duas palavras gregas, cada uma das quais tem uma pequena
distinção de significação. Exemplos:
ephistemi
significa
sobrevir,
como em
Luc. 21:34 — “vos
sobrevenha
de improviso”;
sunerchomai
significa
reunir-se,
ou
ajuntar-se,
como em
I Cor. 11:18 — “vos
ajuntais
na igreja”;
proserchomai
significa
aproximar-se,
como em
Heb. 4:16 —
“Cheguemo-nos,
pois,
confiadamente”;
heko
significa
chegar,
ou
ter vindo,
ou
veio,
como quando a ação
de vir é completada, como em João 2:4 — “Ainda não é
chegada
a minha hora”;
enistemi
significa
estar presente,
e esta
traduzida assim, exceto em dois lugares onde deve de ser assim traduzida: 2
Tim. 3:1 —
“sobrevirão
tempos penosos”
— estarão presentes; e 2 Tess. 2:2 — “como se o dia do Senhor estivesse já
perto”
—
presente.
Parousia,
também,
significa
presença,
e nunca deve
ser traduzida
vinda,
como em traduções
das Bíblias em português. Na
Versão Revisada
da Imprensa Bíblica Brasileira
é três vezes
traduzida,
presença.
(2 Cor. 10:10;
Fil. 1:26; 2:12) A
Edição Revista e
Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil
traduz
presença
nas mesmas
passagens, e também em duas outras. (I Tess. 2:19, 3:13) A versão
“Emphatic Diaglott,”
uma
tradução em inglês muito valiosa do Novo Testamento, traduz
parousia
propriamente,
presença,
em
quase toda ocorrência da palavra.
[159]
As duas palavras
gregas,
heko e
parousia,
e seu
uso no Novo Testamento, são as que queremos notar no momento, e
particularmente a segunda destas; porque uma apreciação correta de sua
significação esclarece a maneira da volta do nosso Senhor, por meio de
passagens em que ocorrem, enquanto a tradução comum, mas errônea, escurece
muito os pontos que deveriam ser iluminados.*
—————————
*A
palavra
parousia
ocorre vinte e
quatro vezes no Testamento Grego, e somente três vezes na Versão Revisada —
IBB (2 Cor. 10:10; Fil. 1:26; 2:12) está traduzida
presença.
As outras
ocorrências, nas quais está traduzida incorretamente
vinda
são como segue: —
Mat. 24:3, 27, 37, 39; I Cor. 15:23; 16:17; 2 Cor. 7:6, 7. Na Edição Revista
e Atualizada — SBB; I Tess. 2:19; 3:13; 4:15; 5:23; 2 Tess. 2:1, 8 (traduzida
aparecimento
no versículo 9,
SBB) Tiago 5:7, 8; 2Ped.1:16; 3:4, 12; I João 2:28.
Com o correto
pensamento na mente, quanto ao significado de
parousia
— não aquele
de vinda,
como
estar a caminho, mas
presença,
como depois da
chegada — nos permitam examiner algumas passagens nas quais a palavra é
usada. E destas aprenderemos que
presença
não
necessariamente envolve a visão, senão que aplica-se também as coisas
presentes, mas invisíveis. Deste modo, por exemplo, anjos, seres espirituais,
podem estar presentes conosco, mas invisíveis assim como o nosso Senhor
estava
presente
no mundo e muitas
vezes com os discípulos durante os quarenta dias depois da sua ressurreição,
sem ser visto pelo mundo, ou pelos seus discípulos exceto nas poucas
ocasiões breves já referidas. Esses dias foram dias da sua
parousia
(presença),
tanto quanto os precedentes trinta e três anos e meio tinham sido anos de
sua presença.
Na conversação
prévia da pergunta de Mateus 24:3, o nosso Senhor tinha predito a destruição
do templo, e a rejeição de Israel segundo a carne até um tempo em que
alegremente o reconheceriam como seu Messias e diriam, “bendito o que vem”.
Ele tinha dito aos seus discípulos que partiria, e viria outra vez, e os
tomaria para si mesmo. Chamou este dia “ceifa” ou fim do mundo (idade),
também ele tinha dito a eles da “ceifa” vindoura no tempo
[160]
da sua segunda
vinda. (Mat. 9:37, 38; 13:39, 40) Sem dúvida, lembrando que poucos
reconheceram-no como o Cristo no seu primeiro advento, quiseram saber
como
poderia ser
seguramente reconhecido no seu segundo advento — provavelmente esperando que
seu segundo advento ocorreria nos seus dias. Daqui por isso eles perguntaram:
“que sinal haverá da tua
parousia
[presença] e
do fim do mundo (da consumação do século — SBB)”?
A causa da sua
disposição para misturar os acontecimentos finais da Idade Judaica, ou ceifa,
nos quais já estavam, com a “ceifa” futura, ou fim da dispensação Evangélica,
o nosso Senhor deu um relato bastante detalhado dos eventos que haviam de
intervir primeiro, indicando um lapso de um considerável período entre as
duas ceifas, todavia não dando nenhuma idéia clara da sua duração; pois
ainda ele não sabia nesse então quão longa seria. — Mar. 13:32.
A resposta do
nosso Senhor nos versículos 1 a 14 abrange a inteira Idade Evangélica; e as
suas palavras nos versículos 15 a 22 têm aplicação dupla — literalmente no
fim da Idade Judaica, e figurativamente no fim desta Idade Evangélica, da
qual era a Idade Judaica uma sombra. Versículos 23-26 contêm palavras de
advertência contra falsos cristos, e no versículo 27 atinge a pergunta deles
com respeito a sua
parousia,
e declara [propriamente
traduzida], “assim como o relâmpago [a luz solar] sai do oriente e se mostra
até o ocidente, assim será também a
parousia
[a presença]
do Filho do homem”. A luz solar vem imediatamente, mas silenciosamente; e é
discernida primeiro por estes que acordaram-se primeiros.
Deixando os outros
característicos intermediários do discurso do nosso Senhor para pesquisa em
seu lugar apropriado, notamos a sua segunda referência à sua pergunta a
respeito de sua
parousia
em versículos
37 e 39. Diz: “Pois como foi nos dias de Noé, assim sera também a
parousia
[presença] do
Filho do homem.” Note, que a comparação não é entre a
vinda
de Noé e a
vinda
do nosso
[161]
Senhor,
nem entre a
vinda
do dilúvio e a
vinda
do
nosso Senhor. A vinda de Noé não está mencionada de qualquer modo; nem está
mencionada a
vinda
do nosso Senhor;
pois, já como consta,
parousia
não significa
vinda,
mas
presença.
O
contraste, então, é entre o tempo da presença de Noé entre o povo
“nos dias
anteriores
ao dilúvio”, e o
tempo da presença de Cristo no mundo, no seu segundo advento,
antes
do fogo — a
extrema tribulação do dia do Senhor com que esta idade termina-se.
E ainda que os
povos foram maus no dia de Noé,
antes
do dilúvio, e
serão maus no tempo da presença do nosso Senhor,
antes
que o fogo quente
da tribulação venha sobre eles, no entanto
este não é
o ponto de
comparação ou semelhança a que nosso Senhor faz alusão. Pois a maldade tem
abundado em toda idade. O ponto de comparação é claramente determinado, e se
vê facilmente, se lemos criticamente: Os povos, exceto os membros da família
de Noé, foram
ignorantes
da tempestade
próxima, e
descrentes
quanto ao
testemunho de Noé e da sua família, e por isso eles
“não o perceberam”;
e este
é o ponto de comparação.
Assim sera
também a
presença
do
Filho do homem. Ninguém salvo esses da família de Deus crerão agora. Outros
“não perceberão”, até que a sociedade, como agora organizada, começa a
dissolver-se com o calor ardente do tempo de tribulação que está por
acontecer agora. Isto esta ilustrado pela palavras, “assim como nos dias
anteriores
ao dilúvio, comiam,
bebiam, casavam e davam-se em casamento [Lucas (17:28) acrescenta “plantavam
e edificavam”], até o dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, ...
assim será também a
parousia
[a presença]
do Filho do homem”. No tempo da
presença
do Filho do
homem, portanto, o mundo seguirá com os seus comes e bebes, plantações,
construções, e casamentos — não mencionados como feitos pecaminosos, senão
como indicativos da sua
ignorância quanto à
presença de Cristo,
e da tribulação
que prevalecerá no mundo. Esta, então, é a resposta do nosso Senhor à
pergunta dos discípulos — Que sinal [indicação] haverá da tua
[162]
[parousia]
presença e do fim do mundo ou ceifa da idade? Em substância, disse: Não
haverá sinal nenhum para as massas mundanas; não saberão da minha presença e
das novas mudanças dispensacionais. Apenas alguns poucos saberão, e eles
serão ensinados por Deus (dum modo não explicado aqui) antes de haver
qualquer
sinal (indicação)
que os mundanos possam discernir.
O relato de Lucas
deste mesmo discurso (Luc. 17:26-29), ainda que não nas mesmas palavras,
está em perfeito acordo. Lucas não usava a palavra
parousia,
no entanto
expressa exatamente o mesmo pensamento, dizendo: “Como aconteceu
nos dias de Noé,
assim
também será
nos dias do Filho
do homem”
— nos dias da sua
presença.
Não
antes
dos
seus dias, nem
depois
dos seus dias,
mas (durante)
seus
dias, o mundo estará comendo, bebendo, casando-se, comprando, vendendo,
plantando, e construindo. Estas Escrituras, então, claramente ensinam que o
nosso Senhor estará
presente
no fim desta
idade, totalmente desconhecido ao mundo, e despercebido por eles.
Ainda que não
haverá mais
dilúvio
para destruir a
terra (Gên. 9:11), está escrito que a terra toda será consumida pelo
fogo
do zelo de Deus (Sof.
3:8) — não a literal, a terra física, em qualquer caso, mas a existente
ordem de
coisas
em ambos casos: na primeira instância realizado por afogamento de todo o
povo com exceção da família de Noé; no último, por queimar todos, com
exceção da família de Deus, no fogo simbólico — a grande tribulação do dia
do Senhor. Os filhos fiéis de Deus serão considerados por merecedores para
que possam escapar de todas estas coisas que hão de acontecer na Terra (Luc.
21:36): não necessariamente por estarem ausentes, levados da Terra mas
possivelmente por tornarem-se à prova de fogo, como na ilustração típica dos
três hebreus que andaram passeando no meio da fornalha de fogo ardente
aquecida sete vezes mais do que se costumava aquecer, em cujos mantos, ainda,
não havia nem o cheiro de fogo; porque um semelhante ao Filho de Deus estava
presente com eles. — Dan. 3:19-25.
[163]
Em seguida
notaremos as Escrituras que ensinam que muitos na Igreja, por algum tempo,
serão ignorantes da presença do Senhor, e da “ceifa” e do fim desta idade,
enquanto ele deveras está presente, e o trabalho da ceifa está em progresso.
Os últimos
versículos de Mateus 24, desde 42 até o fim, são muito significantes. No
versículo 37 o nosso Senhor tinha mostrado que o mundo não compreendia nada
da parousia do Filho do homem; e agora avisa aos seus discípulos professos
que, a menos que estejam de guarda, estarão semelhantemente em trevas com
respeito a sua
parousia.
Ele disse:
“Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia vem [erchomai
— chega]
o vosso Senhor.” Se pessoas esperassem um ladrão num tempo definido,
ficariam despertadas para não serem apanhadas de improviso; portanto vós
devereis estar sempre vigilantes, sempre de prontidão, e sempre vigiando
pela primeira evidência da minha
parousia.
Em resposta da
vossa pergunta,
“quando
serão essas coisas”,
apenas vos digo vigiai e estai preparados, e quando eu chegar, quando eu
estiver
presente,
comunicarei o fato
a todos que são fiéis e estão vigiando, e apenas eles terão o direito de
saber. Todos os outros devem e têm que estar nas trevas exteriores, e têm
que aprender com e como o mundo — por meio de tribulação.
“Quem é,
pois
[na “ceifa”], o
servo fiel e prudente, que o senhor pôs*
sobre
os seus serviçais, para a tempo dar-lhes o sustento? Bem-aventurado aquele
servo a quem o seu senhor, quando vier [erchomai
—
quando ele
chegar],
achar assim fazendo. Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus
bens” — todo o vasto armazém de verdade preciosa abrir-se-á a tais servos
fiéis, para fortalecer, suprir e alimentar a todos os da família da fé.
—————————
*MSS
Vaticano e Sinaítico lê-se
“deve fazer.”
Porém se o coração
do servo não é reto, dirá: Meu senhor tarda em vir [não
tem chegado],
e começará espancar [opor e contradizer] os seus conservos [aqueles os que
discordam com ele;
[164]
os que portanto
estão declarando o oposto — Meu Senhor não tarda, mas
tem vindo,
está
presente].
Tal pode comer e beber com os ébrios [tornar-se embriagado com o espírito do
mundo], mas, virá [grego,
heko
— chegará] o
senhor daquele servo, chegará num dia em que não o espera, e numa hora de
que não sabe, e cortá-lo-á pelo meio [por ser um dos servos privilegiado
para a tempo dar sustento aos serviçais], e lhe dará a sua parte com os
hipócritas [ainda que não será um hipócrita, mas um servo genuíno, ele deve,
por causa da incredulidade e exagero, ter a sua parte com os hipócritas na
perplexidade e tribulação que está vindo sobre a Babilônia]; “ali haverá
choro e ranger de dentes”.
O antecedente,
cuidadosamente examinado, nos ensina claramente que no fim desta idade
haverá uma classe negando que o Senhor
está presente
(não
negando que ele virá em algum tempo, mas negando que ele veio), e espancando
ou asperamente contrariando esses conservos que portanto devem de estar
ensinando o oposto — que o Senhor tem vindo. Qual é o fiel, o verdadeiro
servo, e qual aquele em erro, está claramente determinado pelo nosso Senhor.
O fiel, aquele que encontrar-se dando o “sustento” adequado, será enaltecido
e dando-lhes a mais plena administração sobre o armazém da verdade, com
aumentada habilidade cada vez maior para apresentá-lo perante a família da
fé, enquanto o mau servo será gradualmente separado e cada vez mais
persuadir-se-á e concluirá simpatia com os meros professores ou hipócritas.
E note o fato de que o que não é fiel é assim cortado, ou separado, num
tempo de que
não sabe
— no tempo da
ceifa — enquanto o seu Senhor está realmente
presente
sem que ele o
saiba, escolhendo e ajuntando as suas jóias. — Mat. 13:30; Sal. 50:5; Mal.
3:17; Mat. 24:31.
Especificamos aqui,
apenas para mostrar que, em resposta à pergunta dos discípulos acerca de
sinais e evidências da sua segunda
presença,
o nosso Senhor
ensinou que nem o mundo nem os servos infiéis estariam cientes dela, até o
fogo intenso de tribula
[165]
ção tiver pelo
menos começado. Evidentemente os fiéis o
verão presente
apenas
pelo olho da fé — por meio das Escrituras que dantes foram escritas para o
seu ensino, para serem compreendidas no momento em que chega o seu tempo.
Verdades presentes em todo assunto são partes dos “seus bens” e tesouro de
coisas novas e velhas que o nosso Senhor pôs diante de nos e agora
sinceramente dá-nos. — Mat. 24:45-47.
Enquanto desta
maneira, por indicações preditas, o Senhor fez preparação ampla para
habilitar a Igreja afim de reconhecer a presença dele a seu tempo, ainda que
não lhe veriam com o olho natural, também nos avisou cuidadosamente contra
enganos que se levantariam — enganos que pareceriam tão plausíveis, de modo
que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. No entanto, isto não é
possível, porque todos os escolhidos prestam atenção cuidadosa ao aviso, e
estudiosamente familiarizam-se com as preditas indicações da sua presença, e
estão vigiando por seu cumprimento. Aqueles de diferente opinião não são da
classe escolhida. Apenas os vencedores hão de reinar com o Senhor. Estes
enganos, como mostrar-se-ão num estudo seguinte, já existem, e estão
induzindo muitos a engano. Mas, graças a Deus, os escolhidos estão
prevenidos e premunidos, e não enganar-se-ão nem desanimar-se-ão. Embora
nuvens e escuridão estão ao redor dele, reconhecem a sua presença, e exultam-se
porque a sua redenção se aproxima. Se, pois, alguém vos disser: Eis aqui o
Cristo! ou: Ei-lo aí! [em qualquer
lugar
particular], não
acrediteis. Portanto se vos disserem: Eis que ele está no deserto; não
saiais; ou Eis que ele está no interior da casa, não acrediteis. Porque
assim como a resplandecente luz do sol, que gradualmente aparece e ilumina
sobre a terra,
assim será a sua
presença.
(Mat. 24:23, 26,
27) Manifestar-se-á como predito, pela luz amanhecente da verdade — verdade
em todo tópico, como agora a vemos tão rápida e gloriosamente desenvolvendo-se.
Ainda uns poucos anos, e plena [166]
mente
nascerá o Sol da justiça, trazendo curas nas suas asas para abençoar e
levantar o mundo acometido de morte.
À vista das
evidências apresentadas neste e nos precedentes como também nos seguintes
estudos, não hesitamos em anunciar a animadora informação, que o Mestre de
novo está presente, como o Líder Ceifeiro — não na carne, como na ceifa
judaica, mas com poder e grande glória, como o exaltado soberanamente, o
Cristo divino, cujo corpo glorioso agora é “a expressa imagem” do Ser do Pai,
ainda que o seu ser glorioso está com benevolência vendado da visão humana.
Ele está “inaugurando o seu reino de justiça; a sua foice da verdade está
separando; ele está congregando em unidade de coração e mente as maduras
primícias do Israel espiritual; e em breve esse “corpo” eleito estará
completo e governará e abençoará ao mundo.
Este anúncio é
feito aqui, para que enquanto prossigamos o leitor possa ter a idéia mais
clara do que as profecias de tempo mais particularmente indicam, quando
demonstrar-se-á que a ceifa, e todos os seus concomitantes eventos estão
agora
cronologicamente devidos, e acontecendo como foi predito.
Assim vistas,
estas profecias de tempo e toda esta particularidade de instrução com
referência à maneira e às circunstâncias concomitantes da aparição do Senhor
não foram dadas para alarmar o mundo, nem para satisfazer à curiosidade
ociosa, nem para despertar a uma adormecida igreja nominal; mas foram dadas
por norma para que aqueles que não estão dormindo, e que não são do mundo,
senão que estão despertos, consagrados e fiéis, e sinceros estudantes do
plano do seu Pai, pudessem ser informados da significância dos eventos
acontecendo, e não ficarem em trevas sobre o assunto e com respeito a
eventos que não
são discerníveis de nenhum outro modo com certeza
— a ceifa, a
presença do grande Ceifeiro, o debulho e a peneiração do verdadeiro trigo, o
atar e a queima do joio no tempo de tribulação, etc.
[167]
Escárnio e
Zombaria Preditos
O apóstolo Pedro
descreve como alguns dos servos infiéis e hipócritas escarnecerão com
zombaria durante a
presença
do Senhor,
ainda como escarneciam nos dias de Noé. (2 Ped. 3:3, 4, 10, 12) Note que o
Apóstolo escreveu à Igreja, e que os escarnecedores que descreve estão
na
igreja nominal
e declaradamente interessados no plano e trabalho do Senhor, e portanto
crentes de que ele
virá em alguma
ocasião.
O escárnio
descrito é no mesmo assunto aqui notado, e tal como ouvimos e ouviremos de
cristãos professos, em qualquer tempo que apresentase o assunto da presença
do Senhor e do trabalho da ceifa, etc. Geralmente os cristãos antes de
pesquisarem o assunto, têm tais idéias de manifestações literais de fogo,
trombetas, vozes, etc., e de ver o Senhor descendo pelo ar, um brilhante
corpo de carne, esses quando ouvem da sua
presença
invisível, sem
tomar o tempo para pesquisar um assunto sobre o qual sentem-se tão seguros,
ocupados com planos mundanos, e embriagados com o espírito do mundo,
rejeitam a matéria prontamente como indigna de investigação.
É a esta classe de
cristãos professos que o Apóstolo faz alusão, dizendo: “nos últimos dias [nos
anos finais da Idade Evangélica — na “ceifa”] virão escarnecedores com
zombaria, andando Segundo as suas próprias concupiscências [planos, teorias,
etc.], dizendo:
Onde
está a promessa da
sua
presença
[parousia]?
porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o
princípio da criação”. Quando refere-se à declaração do nosso Senhor (Mat.
24:37-39; Luc. 17:26) de que nos
seus dias,
nos dias da
sua
presença,
as coisas deveras
continuariam como antes; e que, como nos dias de Noé, os povos comeriam,
beberiam, casariam, plantariam e edificariam; e que, assim como naquele
tempo, o mundo
não perceberia
a sua
presença, e não notaria os sinais das rápidas e grandes mudanças exatamente
à mão, os povos estão
[168]
ocupados demais
para considerar o testemunho cuidadosamente, e somente continuam
escarnecendo com zombaria.
Ah! diz Pedro,
esquecem da grande mudança que aconteceu nos dias de Noé; e então, sob o
símbolo de fogo, descreve o irresistível dilúvio de tribulação que dentro de
pouco tempo alcançará o mundo inteiro, completamente derrotando todo governo
civil e eclesiástico [os céus] e dissolvendo a inteira estrutura social [a
terra] — produzindo anarquia e caos social até que os novos cues [poderes
governamentais — o Reino de Deus] estarão estabelecidos plenamente, tanto
como uma nova terra [a sociedade organizada numa nova e melhor base, de amor,
igualdade, e retidão]. O Apóstolo então lembra-nos (verso 8) de que este Dia
da
presence
do Senhor, que a
Igreja por muito tempo tem esperado e contemplado, é um dia de mil anos — o
milênio do reino de Cristo na Terra.
No versículo 10
nos assegura: “Virá [grego,
heko — chegará],
pois,
como ladrão*
[despercebidamente,
pelas caladas: estará presente, enquanto alguns estão zombando e espancando
a esses conservos que declaram a verdade] o dia do Senhor”. Então o Apóstolo
exorta aos santos para separação do mundo; que não sejam absorvidos por
política, por dinheiro, lucros, etc., mas que ponham as suas afeições nas
coisas mais altas. Diz: Visto que no plano de Deus as atuais condições
mundanas são apenas temporárias e em breve cederão lugar à melhor ordem, que
tipo de pessoas devemos ser em santo procedimento e piedade? —
“aguardando
...
a
presença
[parousia]
do dia
de Deus” — vigiando pelas evidências (sinais) afim de comprovar que tem
chegado.
————————
*Velhos
Manuscritos omitem aqui as palavras,
“de noite.”
E, graças a Deus,
a sua provisão é tão abundante que todos aqueles piedosos, que estão
aguardando
por
esse dia, saberão dele antes da total explosão do fogo da ira. Através do
Paulo nos assegura que nenhum dos filhos da luz estarão deixados em trevas,
[169]
para
que aquele dia os surpreenda. (I Tess. 5:4) Portanto, ainda que já estamos
no
dia da
presença
do Senhor, e
no começo do grande fogo de tribulação, vemos que isto é ainda assim como
mostradonos em símbolo (Apoc. 7:1, 2) — a tempestade está mantida sob
controle até que os servos fiéis de Deus sejam selados “na sua fronte”: isto
é, até que a tais seja dada uma apreciação intellectual do
tempo, presença,
etc., o
que não somente os confortará, e os protegerá, senão também será um
sinal,
selo ou
evidência da sua filiação, como indicado pelo nosso Senhor, quando prometeu,
que o Espírito Santo anunciaria aos fiéis “as coisas
vindouras”.
— João 16:13.
Alguns tomam a
declaração de Pedro literalmente, de que “os céus passarão com grande
estrondo, e os elementos, ardendo, se dissolverão”; e também a descrição do
Revelador dos mesmos eventos, por um símbolo muito semelhante, “o céu
recolheu-se como um livro que se enrola”. Pareceria, no entanto, que uma
olhada dirigida para cima às miríades de jóias da noite resplandecendo
através de milhões de milhas no espaço, com nada entre elas para enrolar e
remover-se, nem pegar fogo, deve ser argumentação bastante em um momento
para convencer a tais que tinham errado em supor que estas declarações sejam
literais — deve convencê-los que a sua expectação de um cumprimento literal
é absurdo em extremo.
Assim, então, Deus
escondeu da humanidade sob figuras de trombetas, vozes, fogo, etc.,
informação (que não foi para os mundanos saber, senão apenas para o “pequeno
rebanho” de santos consagrados) com respeito à ceifa, a presença do Senhor,
o seu reino espiritual, etc. E todavia as arranjou para que em seu tempo,
falassem claramente e enfaticamente à classe para qual programou a
informação. Tal como no primeiro advento, assim a uma classe consagrada
similar pode dizer-se agora, no tempo do Segundo advento — “A vós é confiado
o mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo se lhes diz por parábolas”
— em figuras e
[170]
enigmas — a fim de
que, ainda que tenham a Bíblia na frente deles outros fora dos consagrados
não possam realmente verem e entenderem. — Mar. 4:11, 12.
O mundo não está
ignorante dos eventos e circunstâncias sem precedente do tempo atual, e sua
aumentada notabilidade com todo ano que passa. Entretanto não percebendo o
grande resultado, estes apenas enchem as suas mentes com escuros presságios
do mal. Assim como predito, estão com medo, pela expectação das coisas que
sobrevirão ao mundo; pois os poderes do céu (os atuais poderes
governamentais) estão sendo abalados.
A Ligação da
Cadeia Profética
No estudo
precedente apresentamos evidência mostrando que os “Tempos dos Gentios” ou
seu arrendamento de domínio, terminará plenamente com o ano de 1914 d. C., e
que nesse tempo serão derrubados*
e o
Reino de Cristo plenamente estabelecido. Que o Senhor deve estar presente, e
estabelecer o seu Reino e exercitar seu grande poder de tal modo para
despedaçar as nações como a um vaso de oleiro, está então claramente
determinado. “Mas, nos dias desses reis” — antes da sua derrota — a saber,
antes de 1914 d. C. — que o Deus do céu suscitará o seu Reino. E ESTE
esmiuçará e
consumirá todos esses reinos.
(Dan. 2:44) E em
harmonia com isto, vemos em toda parte evidência do começo de transtorno,
abalo, e derrocamento dos poderes atuais, em preparação para o
estabelecimento do reino “que não pode ser abalado” — o governo forte.
———————
*Quanto
tempo isto requererá para executar este derrocamento não está nos informado,
no entanto existe razão para crer que o período sera breve”.
O próximo estudo
apresentará evidência da Bíblia que 1874 d.C. foi a data exata do começo dos
“Tempos da Restauração”, e
[171]
portanto da volta
do nosso Senhor. Desde essa data ele tem estado verificando a sua promessa a
esses na atitude própria de vigilância — “Bem-aventurados aqueles servos,
aos quais o senhor, quando vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se
cingirá, e os fará reclinar-se à mesa e, chegando-se, os servirá.” (Luc.
12:37) Ainda assim, tem aberto para nós as Escrituras, mostrando-nos verdade
concernente à sua presente natureza gloriosa, o objetivo, a maneira e o
tempo da sua vinda, e o caráter das suas manifestações aos da família da fé
e ao mundo. Tem chagado a nossa atenção a profecias que nos colocam
definitivamente na corrente de tempo, e tem mostrado-nos a ordem do seu
plano de operações neste tempo da ceifa. Tem demonstrado-nos, antes de tudo,
que é uma ceifa dos santos, um tempo para o seu pleno amadurecimento, e para
sua separação do joio; e em segundo lugar, que é um tempo do mundo para
colher a sua ceifa de turbulência — para a vindima dos cachos de uvas da
vinha da terra, e o pisar dos seus frutos no grande lagar da ira de Deus
Todo-poderoso. Ele tem mostrado-nos que ambos destes amadurecimentos (Apoc.
14:1-4, 18-20) completar-se-ão num período de quarenta anos, terminando com
o ano 1915 d.C.*
———————
*Veja
o Prefácio do Autor, páginas III-V.
Mas enquanto o
leitor está assim informado de que sera comprovado nos estudos seguintes,
não deve esperar passagens das Escrituras apontadas em que estas matérias e
estas datas sejam obviamente escritas. Ao contrário, deve tê-lo em mente que
todas estas coisas têm sido
escondidas
pelo Senhor,
de tal maneira que não poderiam ser entendidas nem apreciadas até que o
devido tempo tivesse vindo, e então somente pelos seus sinceros, filhos
fiéis, que estimam a verdade como mais preciosa do que os rubis e os
diamantes, e que estão dispostos a procurá-la assim como os povos procuram
por ouro e prata. Verdade, como prata, tem que ser não somente minerada, mas
também refinada, separada da escória, antes que seu valor possa ser avaliado
com precisão. As coisas aqui
[172]
afirmadas em
poucas palavras serão comprovadas ponto por ponto; e enquanto muitos podem
preferir tomar uma declaração sem o trabalho de verificá-la nas Escrituras,
isto não será o caso com o buscador sincero da verdade. Ele deve, tanto
quanto possível, fazer a todo ponto, argumento e sua própria comprovação,
diretamente da Palavra de Deus, por traçar todas as ligações, e assim
convencendo a si mesmo da veracidade do relatório apresentado.
Ainda que o Senhor
previu isto, e os servos dão “a tempo” “o sustento” para os “serviçais”,
todavia cada um, para ser fortalecido pelo mesmo, tem que comer este
alimento individualmente.
“Meus olhos vêem
glória da presença do Senhor;
Já pisa uvas no
lagar da grã ira de Deus;
Sua espada deixa
já ouvir o seu fragor:
Já marcha nosso
Rei.”
Glória, Glória,
Aleluia! Glória, Glória,
Aleluia! Glória,
Glória, Aleluia!
Já marcha nosso
Rei.
“Juízos Seus que
rodeiam a Terra posso ver,
Sinais que
preludiam da aurora o nascer;
Eu leio Sua
sentença nos tronos a cair:
Já marcha nosso
Rei.
“Os ‘Tempos dos
Gentios’ já chegaram ao fim,
Com eles o pecado
e tristeza partirão;
Chegou Leão da
tribo de Judá a dominar:
Já marcha nosso
Rei.
“Já soa sétima
trombeta, vence nosso Rei,
Julgar há ante
trono, povos e seus corações
Apressa alma minha
recebê-lo com amor:
Já marcha nosso
Rei.”